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Uma nova tentativa de assassinato contra o candidato republicano Donald Trump abalou a política americana, neste domingo (15), a exatos 50 dias das eleições presidenciais.
O novo episódio de violência investigado contra o ex-presidente ocorre dois meses após ele ser atingido de raspão na orelha em um comício na Pensilvânia por um atirador de 20 anos, ampliando o clima de incerteza política nos Estados Unidos, com as sondagens eleitorais indicando um empate técnico com a democrata Kamala Harris.
Assim como na primeira vez, apoiadores do ex-presidente responsabilizaram os democratas por propagarem discursos de ódio contra Trump, ao afirmarem que uma nova gestão sua seria uma "ameaça à democracia".
O próprio candidato culpou a gestão de Joe Biden e Kamala Harris nesta segunda-feira (16) pela tentativa de assassinato que sofreu em seu clube de golfe.
“A retórica deles está fazendo com que eu seja alvejado, quando sou eu quem vai salvar o país, e eles são os que estão destruindo o país — tanto de dentro quanto de fora”, afirmou Trump em entrevista para a Fox News.
O estrategista republicano David Urban, um aliado de Trump, comentou nesta segunda-feira que era muito cedo para saber como o episódio poderia afetar os próximos dias e semanas da campanha, mas, em suas conversas com pessoas próximas a Trump, ele estava percebendo uma "profunda sensação de choque e incerteza".
Em entrevista à Gazeta do Povo, o doutor em Relações Internacionais Igor Lucena afirmou que, apesar de uma parcela dos eleitores americanos já estarem firmados com um dos eixos políticos - democratas ou republicanos - a nova tentativa de assassinato contra o ex-presidente Trump pode gerar efeitos positivos para sua campanha.
"Essa é uma segunda tentativa de assassinato. A primeira foi muito séria. Esse segundo acontecimento, então, pode trazer um sentimento de empatia dos eleitores. Se ele apresentar esse questionamento na campanha, do motivo de estarem tentando matá-lo, ele pode conseguir o que precisa: a adesão dos indecisos do que chamamos de swing states (ou Estados-pêndulo)".
"Se ele [Trump] convencer a população americana de que ele está sendo atacado por defender os princípios e divisão de América que ele idealiza, ele pode arregimentar votos com o discurso de que está dando a vida pelo país", acrescentou Lucena.
Apesar dessa possibilidade, o analista avalia que essa não é uma ciência exata, portanto, é passível de resultar em outros cenários. "Não é uma ciência exata, porque quando falamos desses números, são 30 mil a 40 mil votos em cada um desses swing states para ter uma maioria. É muito difícil captar exatamente isso nas pesquisas eleitorais, tanto é que elas se mostram muito próximas".
Por outro lado, o analista político e professor de Políticas Públicas e Relações Institucionais do Ibmec Brasília Eduardo Galvão acredita que esses ataques podem aumentar ainda mais o clima de polarização e violência política no país.
"Investigando as causas [dos ataques], é possível identificar uma atmosfera de tensão e radicalização que, por sua vez, pode alimentar novos episódios de violência", disse Galvão.
O especialista pontua que, historicamente, o impacto de eventos como esse tende a ser limitado. "Especialmente se esse efeito já foi observado em ataques anteriores. O primeiro atentado pode ter gerado um efeito de comoção, mas a repetição de episódios semelhantes frequentemente leva a uma diminuição do impacto emocional e político".
Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da faculdade Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), avalia que o principal impacto do último ataque contra Trump será o de mobilização das bases republicanas, utilizando o acontecimento ativamente na campanha, como engajamento nas redes sociais e eventos políticos.
Após o primeiro atentado, em 13 de julho, Trump ganhou os holofotes da imprensa e destaque entre seus apoiadores.
Uma semana após a tentativa de assassinato na Pensilvânia, em um comício, o ex-presidente ampliou o número de seguidores na rede social Instagram, em um milhão, o que indica um aumento da força política.
Na ocasião, a vantagem do republicano sobre seu então adversário, Joe Biden, nas pesquisas eleitorais era de 52%, segundo uma sondagem da CBS.
Apesar do crescimento significativo pós-atentado, em julho, a nomeação de Kamala Harris para substituir Biden na corrida presidencial tirou o foco da tentativa de assassinato e de uma certa unidade nacional, retomando a polarização política nos Estados Unidos.