Uma série de carros-bomba matou mais de 110 pessoas - 25 delas, crianças - numa maré de violência que assola o Iraque a duas semanas do referendo sobre a nova Constituição do país. Um dos quatro carros explodiu num mercado lotado da cidade de Hilla, nesta sexta-feira, matando pelo menos 12 pessoas e ferindo 47. Na cidade de Balad, o número de mortos na detonação quase simultânea de três carros-bomba na noite de quinta-feira saltou nesta sexta-feira para 98, segundo a direção do hospital local.
Furiosos, moradores de Balad culparam "combatentes estrangeiros" pelos ataques. Os militares americanos há muito denunciam a infiltração, pela fronteira com a Síria, de estrangeiros recrutados para atentados terroristas e confrontos com tropas iraquianas e americanas.
- O que esses jordanianos, palestinos e sauditas têm a ver conosco? É uma vergonha para eles - disse Abu Waleed, dono de um hotel em Balad.
Sete dos hóspedes de Waleed morreram nas explosões.
- Por que isso está acontecendo? Isso é um ato criminoso, e a Constituição vai prevalecer, apesar deles.
A Constituição iraquiana foi elaborada e aprovada num Parlamento onde a representação da maioria xiita e dos curdos é desproporcionalmente alta em relação à divisão populacional, principalmente porque os sunitas boicotaram as eleições de janeiro. A insurgência iraquiana é formada basicamente por sunitas, apoiados por radicais islâmicos estrangeiros. A minoria sunita comandava o país na era Saddam Hussein e se queixa de marginalização. Muitos temem que a nova Constituição sele esse isolamento. Nos EUA e no Iraque, crescem as preocupações com o risco de uma guerra civil.
Do lado de fora do hospital de Balad, um médico colocava listas com os nomes dos mortos e 119 feridos atendidos. Vinte e cinco dos mortos tinham menos de 15 anos. Catorze pessoas não puderam ser identificadas.
Diante do hospital, uma multidão gritava:
- Com nossas almas, com nosso sangue, nós nos sacrificamos pela Constituição!
A nova campanha da insurgência também mantém a pressão sobre as tropas estrangeiras. Na quinta-feira, uma bomba colocada numa estrada matou cinco fuzileiros navais dos EUA, em Ramadi, no ataque mais letal em semanas contra as forças dos EUA.