Policiais bloqueiam rua em Hackney, leste de Londres, após lojas serem saqueadas e carros incediados| Foto: Toby Melville/Reuters

Entrevista

É mais uma baderna do que um movimento

Jonathan Shepherd, do Centro de Estudos sobre Violência Urbana da Universidade de Cardiff.

Integrante do Centro de Estudos sobre Violência Urbana da Universidade de Cardiff, Jonathan Shepherd não vê nos distúrbios que aterrorizam Londres sinais das mesmas tensões sociais que, na década passada, resultaram em confrontos em Paris e outras cidades francesas. Shepherd, que foi consultor de diversos estudos parlamentares sobre a violência urbana no Reino Unido diz acreditar que a capital britânica presencia um mero surto de comportamento criminal e tédio juvenil.

Pode-se comparar os acontecimentos de Londres com os distúrbios da França na década passada?

Acho a comparação um pouco precipitada, ainda que a lembrança seja tentadora para alguns. A França tem uma tradição de barricadas muito maior que a do Reino Unido, ao mesmo tempo em que tem minorias raciais em situações de carência muito maiores.

Os britânicos têm menos desemprego e uma previdência social em muito melhor estado. Uma diferença crucial é que vimos neste fim de semana muito mais saques do que protestos. Um comportamento criminal, não rebelde.

A frustração com alegações de maus-tratos da polícia e a morte de Mark Duggan não seriam uma justificativa?

Incidentes isolados podem causar explosões, mas não vejo justificativa para a escalada da situação. A polícia em nenhum momento exibiu comportamento desafiador ao lidar com os protestos, tanto que se viu em inferioridade em alguns momentos. Especialmente nos casos de distúrbios em regiões que em nada tinham a ver com a comunidade afetada pelo incidente de sábado. Há sinais de grupos de jovens que simplesmente aproveitaram a oportunidade para criar confusão.

O que dizer do argumento de que houve um planejamento das ações, incluindo o uso das mídias sociais?

Os acontecimentos ainda têm mais o perfil de uma baderna do que de operações planejadas. Ainda assim, a polícia tem nos próximos dias o desafio de se antecipar a futuros distúrbios. Não há solução mágica, mas um policiamento mais ostensivo e de rápido acionamento já ajudará a controlar a situação.

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A onda de saques, vandalismo e conflito de jovens contra policiais, que começou no sábado em Londres, se espalhou ontem por toda a cidade. Carros, lojas, casas e ônibus foram incendiados.

Pela primeira vez, também hou­­ve confrontos com a polícia e sa­­ques fora de Londres, em Bir­­min­­gham, no centro do país. Ao me­­nos 215 pessoas foram presas.

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Os distúrbios de ontem começaram no fim da tarde em Hack­­ney, bairro no leste que fica próximo do Parque Olímpico, onde acontecerá a Olimpíada no ano que vem.

Após a polícia revistar um ho­­mem, um grupo se juntou e começou a atirar o que encontrava nos policiais: latas de lixo, garrafas, pedras, pedaços de madeira.

A maioria era jovem, muitos, menores, que cobrem o rosto com capuzes ou lenços. Depois quebra­­ram vitrines e saquearam lo­­jas.

Mais tarde, o mesmo aconteceu em Lewisham (sudeste da ci­­dade) Peckham (sul), Ealing (oeste), e Clapham (sul).

Por volta das 20h30 locais, um grupo incendiou uma loja de mó­­veis e casas em Croydon (sul). Ha­­via relatos de vandalismo em Cam­­den Town e Notting Hill (norte).

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A polícia investiga redes so­­ciais como Twitter e Facebook e um serviço de mensagens do Black­­Berry para checar informações sobre suposta convocação dos encontros.

"O que está havendo é banditismo. Pura criminalidade", disse a ministra do Interior, Theresa May, que interrompeu as férias para voltar a Londres.

A polícia ainda investiga a co­­nexão entre os conflitos.

O primeiro, em Tottenham, acon­­teceu após protestos pela morte de Mark Duggan, que tinha 29 anos e foi baleado pela polícia na quinta-feira. A informação oficial é que ele atirou primeiro, o que a família contesta. Na tarde de anteontem, familiares e amigos foram até a delegacia local pedir explicações à polícia.

Ainda não se sabe o que transformou o protesto pacífico em um conflito com os policiais, que, em menor número, não conseguiram conter as pessoas, que incendiaram um ônibus, carros policiais e lojas.

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O bairro foi tomado pela polícia no dia seguinte. Mas os protestos se espalharam para Einfeld (que fica ao lado) e Brixton (no sul).

São todos bairros pobres, com grande concentração de população afro-caribenha. Moradores dizem que havia ódio contido pe­­la forma como a polícia lida com os jovens, sobretudo os ne­­gros. Afirmam que muitos são abordados e revistados sem ne­­nhuma razão aparente.

Outros culpam os cortes feitos pelo governo em programas so­­ciais.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, decidiu interrom­­per as férias na e voltar para Lon­­dres para acompanhar de perto os episódios de violência que assolam a capital londrina, informou ontem seu gabinete. Came­­ron participará de uma reunião do Comitê britânico de Contin­­gên­­cias de Emergência e conversará sobre a situação na capital britânica com o ministro do Interior e com o chefe da polícia, informou um comunicado emitido por Downing Street.

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