Tropas egípcias entraram em confronto ontem com manifestantes contrários ao governo militar que comanda o país. É a pior onda de violência das últimas semanas, ofuscando a contagem do votos da segunda fase de uma eleição geral histórica.
Mais de cem pessoas ficaram feridas, segundo informou o subsecretário do Ministério da Saúde, Adel Adaui, nas sucessivas tentativas das tropas para dispersar uma manifestação pacífica em frente dos escritórios do gabinete. Testemunhas disseram que três manifestantes foram mortos a tiros em confrontos com soldados.
O protesto pedia a transição imediata para um governo civil, de acordo com a televisão estatal.
Em declarações à agência de notícias estatal egípcia Mena, Adaui detalhou que as vítimas sofreram fraturas e hematomas e que alguns foram baleados. Ele acrescentou que 16 ambulâncias foram transferidas às imediações da Praça de Tahrir, no centro do Cairo, para transportar os feridos.
A emissora estatal informou que 32 membros das forças de segurança ficaram feridos, inclusive um oficial atingido por disparos feitos de uma arma que seria dos manifestantes.
Os confrontos começaram de madrugada e são os mais sangrentos desde os cinco dias de protestos em novembro, quando mais de 40 pessoas foram mortas pouco antes das primeiras eleições parlamentares do Egito desde a saída do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro.
A violência começou depois que um manifestante ensanguentado disse ter sido preso pelos soldados e agredido. Após o episódio, manifestantes começaram a atirar pedras nos soldados, segundo testemunhas.
Os manifestantes também atiraram bombas incendiárias contra militares na manhã de ontem. Em retaliação, tropas oficiais e a polícia militar atacaram a multidão por diversas.
Dezenas de pessoas mantêm um acampamento na frente da sede do Conselho de Ministros desde que a praça Tahrir foi reaberta ao trânsito no último dia 11 de dezembro para protestar contra o novo governo de transição, dirigido por Kamal Ganzouri, premiêentre 1996 e 1999 durante o mandato do ex-ditador Mubarak.
As imediações da Tahrir foram cenário de violentos choques entre manifestantes e a polícia no final do mês passado, o que originou um grande acampamento na praça contra a Junta Militar e a renúncia do Executivo anterior do primeiro-ministro Essam Sharaf.
Na quinta-feira aconteceu o primeiro turno da segunda etapa das eleições parlamentares em nove províncias do Egito, após a vitória dos islamitas na rodada inaugural do pleito, iniciado no dia 28 de novembro.