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Soldados da Guarda de Honra ucraniana hasteiam uma bandeira nacional em Odesa, Ucrânia, 23 de agosto de 2022.
Soldados da Guarda de Honra ucraniana hasteiam uma bandeira nacional em Odesa, Ucrânia, 23 de agosto de 2022.| Foto: EFE/EPA/STRINGER

Com o reforço de armamento de países do Ocidente, os ucranianos conseguiram fazer tropas russas recuarem até a fronteira. Essa virada da Ucrânia na guerra que começou em 24 de fevereiro pressiona a Rússia a tomar novos posicionamentos diante do conflito. Em todas as opções que restam ao presidente russo, Vladimir Putin, há grandes chances de seu país sair perdendo militar e politicamente.

A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse nesta terça-feira (13) que mais de 300 cidades que estavam sob controle russo foram retomadas pelo país, como resultado de uma contraofensiva ucraniana que ganhou força no final do mês passado. O território confirmado é de 3.800 km2 e, segundo ela, a reconquista real deve ser de “quase o dobro”.

As forças russas controlavam cerca de um quinto do país no sul e no leste até o começo da semana passada, mas a Ucrânia está agora na ofensiva em ambas as áreas.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse na segunda-feira (12) que as forças ucranianas fizeram "progressos significativos" com o apoio ocidental para garantir que tenham o equipamento necessário.

Washington anunciou seu mais recente programa de armas para a Ucrânia na semana passada, incluindo munição para sistemas anti-foguetes, e já havia enviado sistemas de mísseis terra-ar, capazes de derrubar aeronaves. O armamento de qualidade é apontado como um dos principais fatores que levaram ao sucesso nessa primeira grande contraofensiva ucraniana.

Somado a ele, está a estratégia militar do país, que, segundo Marcelo Suano, professor de relações internacionais e diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI), deve ter garantido grandes baixas entre as tropas russas, apesar de ser impossível calcular em meio à guerra de informações.

“As perdas das tropas russas estão sendo muito grandes. Você não recua se não tiver grandes perdas”, lembrou o professor.

Suano ainda destacou que o tempo de conflito pode estar comprometendo a capacidade da Rússia de repor suas reservas de equipamentos, combustível, alimento e soldados.

Novos conflitos podem prejudicar a Rússia 

A Rússia não pode mobilizar para a Ucrânia soldados que estão em outros territórios, criando vácuos e perdendo força em outros países. E é exatamente nesse cenário que um vizinho da Rússia, o Azerbaijão, reacendeu um conflito ao bombardear a Armênia na madrugada desta terça-feira. Pelo menos 49 soldados morreram e três civis ficaram feridos.

As duas ex-repúblicas soviéticas têm confrontos desde a década de 1980 sobre a fronteira do Nagorno-Karabakh - reconhecido internacionalmente como território do Azerbaijão, mas povoado por armênios étnicos. Os países se acusam mutuamente de ataques fronteiriços, que se repetem esporadicamente.

Rapidamente, a diplomacia russa anunciou que estava preocupada com a situação e se colocou como mediadora dos conflitos.

"A Rússia tem apenas ferramentas políticas na região. Não tem recursos militares. Duas mil forças de paz em Karabakh e uma base militar na Armênia não são um recurso suficiente", afirmou à Agência EFE o diretor do Instituto do Cáucaso com sede em Yerevan, Alexandr Iskanderian.

O ex-ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Tofik Zulfugarov, argumentou que "não é do interesse da Rússia, dadas suas dificuldades na Ucrânia, complicar as relações com o Azerbaijão e o principal aliado dele: a Turquia".

No entanto, Putin também não pode tirar parte desses soldados que garantem a paz na Armênia para fortalecer os combates na Ucrânia.

Possíveis consequências 

Com o fortalecimento da Ucrânia e a impossibilidade de concentrar suas tropas em um único conflito, a Rússia fica pressionada a encontrar novas saídas. Declarar a guerra como perdida não é uma alternativa para Vladimir Putin. Portanto, uma das possibilidades é que ele, enfim, anuncie que está, de fato, numa guerra.

Em nenhum momento desde a invasão da Ucrânia em fevereiro o presidente russo utilizou essa palavra para tratar da invasão. Putin fala em “operação militar especial” e é essa ideia que ele vende para a população do país.

“Declarar uma guerra, sem ter uma justificativa para isso, colocaria a Rússia como um invasor”, lembrou Suano, e essa não é a mensagem que Putin quer passar internamente aos russos.

Ainda assim, se de fato ele optar por uma escalada do conflito e aumentar os ataques, utilizando possíveis armas mais potentes – talvez até partir para uma guerra nuclear -, terá que mobilizar tropas que estão em outros conflitos ou contar com países como China e Coreia do Norte, que provavelmente não terão interesse em investir em uma guerra com potencial de se tornar mundial.

Putin também pode tentar arrastar o conflito nesse mesmo ritmo por mais tempo, o que pode gerar um enfraquecimento do interesse dos outros países pela guerra na Ucrânia, tornando-o um confronto cada vez mais isolado.

E, à medida que o tempo passa, Putin é questionado por líderes políticos pelos erros estratégicos e pela falta de resultados, enquanto milhares de soldados morrem no país vizinho.

Enfraquecimento de Putin 

Insatisfeitos com essa situação, sete deputados russos de São Petersburgo pedem a destituição de Putin. Os legisladores enviaram na sexta-feira (9) uma carta oficial à câmara baixa do país, em que descreveram que as hostilidades na Ucrânia "colocam em risco a segurança da Rússia e de seus cidadãos, além da economia".

Os deputados também destacaram que a guerra não conseguiu frear a Otan - pelo contrário, fez com que a aliança se expandisse pelo leste europeu - e sugeriram que Putin seja destituído por traição à nação, conforme o artigo 93 da Constituição do país.

Outra carta, enviada diretamente a Putin, também foi escrita pelos legisladores. "Sua retórica de intolerância e agressão mergulhou a Rússia de novo na Guerra Fria", destacaram os deputados. "A Rússia voltou a ter medo e ódio, ameaçando o mundo inteiro com armas nucleares", descreveram.

"Nós pedimos que você se retire do cargo, porque suas opiniões e seu modelo de gestão estão completamente ultrapassados e impedem o desenvolvimento da Rússia e de nosso potencial humano", declararam os deputados diretamente a Putin.

Abbas Galliamov, cientista político entrevistado pelo jornal francês Le Monde, lembrou que parte da população começa a perceber que “Putin faz piada enquanto mata nossos garotos. Ele os enviou à morte e se diverte como se nada estivesse acontecendo”.

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