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A virologista chinesa Yan Li-Meng publicou um artigo, não revisado por pares, nesta segunda-feira (14) no qual conclui que o Sars-CoV-2, o novo coronavírus, foi criado em laboratório. A posição da cientista, que era pesquisadora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong quando fugiu da China depois de anunciar a sua teoria na imprensa, é contrária ao amplo entendimento da comunidade científica de que o vírus surgiu na natureza e não foi manipulado em laboratório. Yan Li-Meng alega ainda que o governo chinês liberou o Sars-CoV-2 intencionalmente.
No artigo publicado na plataforma Zenodo, Yan e três colegas que assinam o texto aparecem como afiliados à Rule of Law Society, um grupo fundado pelo ex-estrategista da campanha de Donald Trump Steve Bannon.
"Eu trabalhei no laboratório de referência da OMS, que é o melhor laboratório de coronavírus do mundo, na Universidade de Hong Kong. E o que acontece é que me aprofundei nessa investigação em segredo desde o início deste surto", disse ela em entrevista ao apresentador da Fox News, Tucker Carlson. "Então, junto com a minha experiência, posso dizer a vocês, isso foi criado no laboratório... e também, foi espalhado para o mundo para causar os danos que vemos", continuou.
Para sustentar sua teoria, ela afirma que as sequências do genoma do novo coronavírus, divulgadas pelo governo chinês em 14 de agosto, mostram características biológicas que são inconsistentes com um vírus zoonótico de ocorrência natural. O artigo, escrito com outros três pesquisadores, afirma que o Sars-CoV-2 "deve ser um produto de laboratório criado usando coronavírus de morcego ZC45 e/ou ZXC21 como modelo e/ou estrutura", referindo-se a um tipo de coronavírus "descoberto por laboratórios militares da Terceira Universidade Médica Militar (Chongqing, China) e do Instituto de Pesquisa de Medicina do Comando de Nanjing (Nanjing, China)". O texto também diz que "a criação em laboratório deste coronavírus pode ser realizada em aproximadamente seis meses".
Ainda em março, cientistas de Estados Unidos, Inglaterra e Austrália conduziram um estudo e descartaram a hipótese agora apresentada por Yan. Nesta semana, a revista Neewseek entrevistou seis cientistas reconhecidos, especialistas em biologia evolucionária, que disseram que o artigo da virologista chinesa não apresenta nenhuma informação nova e que as alegações não tem fundamento científico.
"Este relatório preliminar não pode receber qualquer credibilidade em sua forma atual", disse Andrew Preston, especialista em patogênese microbiana da Universidade de Bath, no Reino Unido. "O relatório não é baseado em uma interpretação objetiva do genoma Sars-CoV2. As interpretações feitas não são apoiadas por dados, não são substanciais e as interpretações são amplamente declaradas, mas não explicadas", continuou.
A inteligência americana, embora tenha considerado a possibilidade de um acidente em um laboratório de Wuhan, onde a Covid-19 surgiu, não acredita que o vírus esteja associado ao desenvolvimento de uma arma biológica pela China.