O ex-revolucionário marxista nicaragüense Daniel Ortega está virtualmente eleito para voltar ao poder, segundo resultados eleitorais divulgados na terça-feira.
A apuração dos votos de domingo deve ser concluída ainda na terça. Com mais de 60% das urnas apuradas, Ortega tem 38,6% dos votos, quase oito pontos à frente do seu adversário conservador e pró-americano Eduardo Montealegre.
Ortega comandou a revolução sandinista em 1979 e governou até 1990, a maior parte do tempo envolvido numa guerra civil contra a guerrilha Contra, financiada pelos EUA.
Pela lei, ele precisa obter mais de 355 dos votos, com cinco pontos de vantagem sobre o segundo colocado, para evitar um perigoso segundo turno.
Sua vitória eleitoral é um revés para os EUA e um presente para o governo venezuelano de Hugo Chávez, que tenta formar uma aliança antiamericana na América Latina.
Ortega, 60, abandonou o marxismo e agora fala principalmente em Deus, paz e reconciliação.
Ele evitou proclamar sua vitória na noite de segunda-feira, mas disse que, seja qual for o resultado, ele está disposto a trabalhar com outros partidos para "erradicar a pobreza e tranquilizar o setor privado e os investidores internacionais''.
Ele promete colaborar com o empresariado e apoiou um tratado comercial com os EUA, mas as autoridades americanas não confiam nele e vêem com preocupação seu apoio a Chávez.
O líder venezuelano ajudou na campanha de Ortega mandando fertilizantes e combustíveis baratos a grupos ligados aos sandinistas. Muitos esperam que Chávez despeje na Nicarágua alguns de seus petrodólares para financiar programas sociais.
- A cooperação da Venezuela é a melhor. Com ajuda, o povo nicaragüense pode ir adiante - disse o jovem sandinista Carlos Espinoza numa celebração na capital, Manágua.
O vice-presidente de Cuba, Carlos Lage, disse que a vitória de Ortega é "uma derrota retumbante'' para os EUA.
Mas Ortega sabe bem o custo de um confronto com Washington. Cerca de 30 mil pessoas morreram na guerra civil dos Contra, e o embargo econômico americano daquela época provocou o caos, prejudicando os ambiciosos programas sandinistas de saúde e educação.
Junto com erros administrativos e a repressão aos dissidentes, a pressão americana finalmente tirou Ortega do poder, quando ele convocou eleições presidenciais, em 1990. Desde então, o país elegeu três presidentes apoiados por Washington.
As autoridades americanas recentemente alertaram para uma redução nos investimentos e na ajuda à Nicarágua caso Ortega voltasse ao poder nesta sua terceira tentativa eleitoral.
O eleitorado aparentemente ignorou o alerta, embora Ortega também tenha sido ajudado por divisões à direita, que em eleições anteriores se unia para evitar a volta dele.
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