Quando o Papa Bento XVI chegar hoje ao México, sua atenção não será disputada apenas por autoridades eclesiásticas e fiéis que aguardam a primeira visita do Pontífice ao país. Os principais candidatos à Presidência também buscarão tirar vantagem da imagem santa a pouco mais de três meses para as eleições.
"Quem deve tirar mais proveito será Josefina Vázquez Mota, do PAN, partido da direita católica que pode reforçar sua tradição conservadora apoiado no discurso do Papa. Enrique Peña Nieto, do PRI, outro que representa o catolicismo de direita, também pode se beneficiar. Todos tentarão capitalizar algo com a visita, inclusive Andrés Manuel López Obrador, do PRD, de esquerda, que assistirá à missa pública de Bento XVI no domingo", explica Hugo José Suárez, sociólogo da Universidade Nacional Autôno ma do México (Unam).
O pesquisador afirma que, mais do que a exposição midiática, o PAN legenda do presidente Felipe Calderón pode aproveitar para angariar votos fora do ambiente de macropolítica.
"Os líderes de paróquias de pequenas cidades têm um poder de intervenção política impressionante, e podem ajudar a reproduzir as mensage ns do Papa com uma orientação política de direita, o que favoreceria os candidatos pelos quais a Igreja mais tem simpatia", opina Suárez.
É esperado que Bento XVI critique temas clássicos, como o aborto e o casamento homossexual. A agenda prevê um encontro com Calderón. O presidente mexicano abordará uma reforma em discussão na Câmara dos Deputados que poderia incluir a educação religiosa nas escolas públicas, a posse de meios de comunicação por associações religiosas e a participação dos pastores em eleições.
Guia
Antes da chegada do Papa, a Igreja Católica mexicana passou uma mensagem clara e, em fevereiro, lançou um guia para orientar os votos dos fiéis.
"O manual significa que a intervenção será ainda mais contundente após a visita do Papa e guiada pelos candidatos favoráveis aos princípios católicos", afirmou o sociólogo da Unam.
A escolha da cidade de Guanajuato para receber Bento XVI não foi casual. O discurso oficial é de que a altitude da Cidade do México poderia afetar a saúde do Pontífice. Mas não passa despercebido o fato de que Guanajuato é o estado com mais católicos no México (93,83%) e dono de uma tradição direitista incentivada pela administração ininterrupta do PAN há 20 anos.
A visita ao México teria ainda a intenção de limpar a imagem da Igreja da pederastia. Ao visitar o país do sacerdote Marcial Maciel, que escandalizou o mundo com denúncias de abusos sexuais, Bento XVI mandaria uma mensagem simbólica importante.
Narcotráfico
Fica a dúvida se o Pontífice comentará a guerra contra o narcotráfico, que já fez 50 mil vítimas desde o fim de 2006. Na semana passada, grupos criminosos espalharam cartazes em que prometiam uma trégua durante a visita papal.
O certo é que a operação de guerra montada para receber o chefe do Vaticano torna explícita a realidade do país. Mais de 13 mil policiais foram mobilizados para fazer a segurança do Papa, além de francoatiradores, em uma logística que custou R$ 20 milhões ao governo local. Depois do México, o Papa segue para Cuba