HOUSTON - Kentrell Hill precisou de um barco para tirar sua família para terra firme, onde eles puderam ser resgatados de helicóptero da alagada Nova Orleans. Como muitos dos pobres e negros desabrigados levados para Houston, ele disse que não voltará ao famoso berço do jazz. Hill, de 23 anos, perdeu sua casa na inundação que se seguiu ao furacão Katrina. Como a reconstrução poderá levar meses, muitos dizem que estão deixando permanentemente a cidade que foi sua terra natal por gerações.
Operário de uma fábrica de café em Nova Orleans, Hill quer voltar para a escola e encontrar um trabalho como eletricista em Atlanta ou Houston. O motorista de caminhão Jeffery Joseph, de 49 anos, parecia repetir os comentários de Hill:
- Por que eu voltaria? Minha casa se foi. Eu perdi tudo. Planejo ficar aqui.
Joseph contou que sua família vivia na Louisiana desde que seus avós chegaram aos Estados Unidos, vindos do Haiti. Sua casa temporária éo Astrodome de Houston, um estádio coberto onde 15 mil pessoas estão abrigadas numa área onde antes o que se via eram jogos de beisebol e futebol americano.
Em alguns casos, a questão sobre onde viver divide as famílias. Darlene Wheeler, de 43 anos, parafraseou a famosa canção de jazz escrita por Louis Armstrong: "Do you know what it means to miss New Orleans" (Você sabe o que significa perder Nova Orleans?).
- É muito triste deixar Nova Orleans. Eu vou voltar - disse ela.
Sua mãe, Ruby, de 56 anos, disse que, depois da morte de 17 pessoas na casa de um primo durante a enchente, ela prefere viver em outro lugar.
- Eu visitarei. Mas eu não voltarei a morar - disse ela, enquanto procurava pelo marido, que não via desde a fuga da cidade - Não há porque voltar, tudo lá está sob a água.
Casais também debatem seus planos para o futuro. Lesley Johnson, de 21 anos, que trabalhava num fast food, disse que mudará para Beaumont, Texas, perto da fronteira com a Louisiana. Keith Oates, com quem ele tem uma filha, disse não ter certeza sobre o que quer fazer. Mas ambos compartilham a suspeita que as autoridades se focaram em salvar os moradores de caras casas onde vivem brancos e negligenciaram predominantemente as áreas dominadas por negros.
- É por isso que estão todos estes negros aqui - disse Oates sobre o Astrodome, onde os refugiados são majoritariamente negros - Eles nos inundaram por uma razão apenas, para salvar os brancos.
Depois que os poderosos ventos do furacão Katrina e a chuva alagaram a maior parte da cidade na segunda-feira, alguns dos diques da cidade arrebetaram na terça-feira, deixando boa parte da cidade submersa. O corpo de engenheiros do Exército americano disse que pode levar até 80 dias para remover toda a água. Autoridades dizem que estão abrigando 15 mil desabrigados no Astrodome e aproximadamente outras quatro mil pessoas em outros lugares de Houston. Milhares de desabrigados mais prósperos ficaram em hotéis na região, esgotando recursos enquanto funcionários estarrecidos tentam providenciar camas para crianças e outros suprimentos.
No Astrodome, Lillie Mae Harris chorava ao se lembrar do desespero dos últimos dias e a separação forçada de outros membros de sua família, mas jurou que vai retornar:
- Eu voltarei para Nova Orleans, minha igreja está lá, tudo.
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