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Imagens de ponte em Berlim em dezembro de 1989, após a queda do muro, e nos dias atuais | Uwe Gerig / Michael Reichel/Efe
Imagens de ponte em Berlim em dezembro de 1989, após a queda do muro, e nos dias atuais| Foto: Uwe Gerig / Michael Reichel/Efe

O domingo marcará 25 anos do colapso do regime que aprisionou e perseguiu, mas muitas das vítimas da antiga Alemanha Oriental ainda estão tão traumatizadas que celebrar a unificação do país pode ser um eterno desafio.

Milhares de pessoas que foram presas por suas visões políticas, ou que tiveram filhos aprisionados após o Estado não considerá-los aptos a serem pais, ainda carregam traumas profundos - com sua condição agravada pela falta de justiça e reconhecimento, disse um grupo que advoga por mudanças.

"Claro que aniversários são uma chance de examinar o passado e comemorar a mudança de ditadura para democracia", disse Rainer Wagner, chefe do Grupo UOKG Umbrella para Vítimas da Tirania Comunista. "Mas é arrepiante ver todos esses discursos de um lado, e do outro um Estado, uma sociedade hesitante em pagar compensações ou trazer antigos agressores à Justiça."

Cerca de 250 mil pessoas foram presas e interrogadas sob motivações políticas de 1945 a 1989, frequentemente por expressarem o desejo de ir embora. Milhões de pessoas escaparam antes de a fronteira ser erguida, e milhares dos que não puderam foram impedidos de alcançar seu potencial por causa de seu passado ou de crenças políticas.

Quando os alemães foram reunidos, o novo governo assumiu a imensa tarefa de investigar os crimes da antiga Alemanha Oriental, prometendo compensar e reabilitar aqueles que sofreram, e explicar seu sofrimento para futuras gerações.

Mas mesmo com o trabalho em andamento, o governo alemão notou no fim do ano passado "duas tendências preocupantes a respeito da antiga Alemanha Oriental - uma diminuição e uma romantização da ditadura, ou a total ignorância". Wagner tem uma referência clara para buscar justiça: quando as vítimas estiverem pelo menos recebendo a mesma pensão ou renda do que aqueles leais ao antigo Estado comunista.

Muitos daqueles que sofreram sequelas físicas ou psicológicas como resultado de prisão ou opressão ficaram impossibilitados de trabalhar, tornando-se dependentes de pequenos rendimentos do Estado, ao passo que ex-servidores civis da Alemanha Oriental recebiam gordas pensões, disse ele. "Os dados mais recentes de 2008 mostram que as vítimas recebem, em média, um terço menos do que aqueles próximos do regime", acrescentou.

Em uma discussão à noite sobre os efeitos da perseguição - perto do Portão de Brandemburgo onde milhares de pessoas devem comparecer à celebração do aniversário da queda do regime, no domingo - algumas vítimas do período simplesmente descobriram que era muito difícil falar a respeito disso.

Aqueles que conseguiram descreveram como foi difícil convencer seus filhos de que a oposição política havia sido o caminho correto, mesmo quando os ex-membros do partido ainda gozavam de alto status. Em um caso de injustiça, alguns dos membros do partido que fizeram doutorado em como silenciar oponentes políticos - em uma universidade patrocinada pela polícia secreta Stasi - ainda têm seus títulos acadêmicos reconhecidos e, então, recebem salários e pensões mais altas, disse Wagner.

Desde a reunificação, alguns dos escritórios da Stasi foram tornados em museus e memoriais, junto com antigas prisões do leste alemão. Vítimas do regime frequentemente fazem aparições em aulas escolares, e há serviços de aconselhamento e grupos de apoio para tentar ajudar pessoas a superar seus traumas. Mas a compensação financeira ainda se mostra uma barreira difícil.

Uma série de leis de reabilitação limpou os registros criminais de prisioneiros políticos e concedeu a eles 306 euros (380 dólares) por mês de prisão - junto com uma "pensão" de 250 euros por mês, caso tenham sido aprisionados por mais de 180 dias e considere-se que estejam em dificuldades financeiras hoje em dia. Muitos veem isso como uma mera quantia, dado que eles sofreram trabalhos forçados na prisão.

Outras leis tentaram indenizá-los de outras maneiras - como os que tiveram decisões judiciais contra eles, ou tiveram suas carreiras prejudicadas - mas estes casos são difíceis de provar, disse o UOKG.

Entre 1993 e 2011, a Alemanha gastou 1,2 bilhão de euros em pagamento de reabilitação, de acordo com um relatório do governo de 2013 que examinou o progresso feito sobre a retificação aos danos causados no regime da Alemanha Oriental. Os pagamentos também foram feitos a atletas que receberam esteroides sem consentimento quando a Alemanha Oriental buscou dominar os quadros de medalhas olímpicas.

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