O anúncio dos resultados das eleições parlamentares na Tunísia - vencidas, como se esperava, pelo partido islâmico Ennahda - provocou uma explosão de violência na cidade de Sidi Bouzid, onde começaram as manifestações que culminaram na Primavera Árabe. A ira após a primeira votação em um país envolvido nas revoltas populares no Norte da África e no Oriente Médio foi causada pela eliminação do partido que ficaria em quarto lugar. O governo impôs um toque de recolher na cidade, que estará em vigor das 19h às 5h, a partir desta sexta-feira, segundo uma fonte do Ministério do Interior.
Manifestantes revoltados atearam fogo à prefeitura e à sede do Ennahda em Sidi Bouzid, onde em dezembro do ano passado um verdureiro se imolou em protesto contra o governo. Seu gesto deu início à revolta popular que terminou derrubando em janeiro o ditador tunisiano Zine el-Abidine Ben Ali e inspirou movimentos em países como Egito, Líbia, Iêmen e Síria.
Autoridades eleitorais anularam a conquista do partido Lista Popular, liderado pelo empresário Hachmi Hamdi, alegando violações no financiamento de sua campanha. A decisão revoltou os moradores de Sidi Bouzid, onde a legenda é popular. A polícia usou bombas de gás para tentar dispersar a multidão e militares dispararam tiros para o ar.
O líder do Ennahda, Rachid Ghannouchi, elogiou o papel da cidade na revolução tunisiana. Mas as promessas de dar continuidade ao movimento por liberdade não impediram os protestos após o anúncio do resultado da eleição para a Assembleia nacional, que vai elaborar uma nova constituição, formar um governo interino e agendar novas eleições, provavelmente para 2013.
Quatro dias depois do pleito de domingo, a Comissão Eleitoral finalmente informou que o Ennahda - banido antes da revolução - ganhou 90 dos 217 assentos do Parlamento provisório. O partido secularista Congresso para a República ficou em segundo, com 30 cadeiras. Uma coalizão de governo deve ser formada.
Segundo resultados preliminares, a Lista Popular ficaria em quarto lugar, se as vagas que conquistou não tivessem sido anuladas. O líder partido já foi partidário do ex-ditador Ben Ali e fez uma campanha populista, ancorada na rede de televisão da qual é dono.
Embora a violência seja motivo de preocupação para o futuro governo da Tunísia, os episódios parecem restritos a aliados do empresário. Os três principais partidos secularistas já aceitaram a derrota e não há informações sobre confrontos em outras cidades.