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Um soldado zimbabuense bate um homem em uma rua de Harare, capital do Zimbábue, enquanto pessoas protestam devido à suposta fraude na eleição do país | ZINYANGE AUNTONYAFP
Um soldado zimbabuense bate um homem em uma rua de Harare, capital do Zimbábue, enquanto pessoas protestam devido à suposta fraude na eleição do país| Foto: ZINYANGE AUNTONYAFP

Com votos ainda a apurar, o partido governista do Zimbábue conquistou a maioria das cadeiras do parlamento nas eleições gerais desta segunda-feira (30), a primeira sem a participação de Robert Mugabe, que governou o país por quase quatro décadas. A contagem dos votos para presidente continua.

Resultados divulgados pela comissão eleitoral do país mostram o partido do presidente Emmerson Mnangagwa, o Zanu-PF (Frente Patriótica Nacional-União Africana do Zimbábue), no caminho para a vitória, após conquistar 145 dos 210 assentos parlamentares em disputa. O partido de oposição MDC (Movimento pela Mudança Democrática), que chegou a declarar nesta terça-feira que estava à frente na disputa eleitoral, obteve, até o momento, apenas 60 assentos - 2 ainda estão em disputa. 

Com este cenário, o Zanu-PF conquista os dois terços necessários para que consiga mudar a constituição do país sem qualquer resistência. 

O porta-voz do partido governista, Nick Mangwana, comemorou o resultado parcial. “Estamos muito satisfeitos com os resultados. Até agora, eles mostram que o povo do Zimbábue confiou no Zanu-PF para liderá-los e faremos o nosso melhor para satisfazer os desejos do povo nos círculos eleitorais que nos elegeram”, disse em entrevista à Al Jazeera. 

O anúncio pesou o clima entre os apoiadores do candidato da oposição, Nelson Chamisa, que estavam reunidos nas ruas da capital Harare, aguardando os resultados enquanto entoavam frases contra o governo.  

“Os resultados não são um reflexo verdadeiro das pessoas que votaram no dia da eleição. São resultados de manipulação, não são os números reais", disse Samson Chikazhe, um dos apoiadores da oposição, à Al Jazeera. 

A oposição fez acusações de manipulação e intimidação pelo partido governista, que assumiu o poder depois que Robert Mugabe foi deposto em novembro pelo seu próprio partido, depois de 37 anos no poder. Uma das reclamações é de que a Comissão Eleitoral tenha desrespeitado as regras porque não publicou os números da votação em cerca de 20% dos colégios eleitorais do país. A lei obriga que os resultados de cada local sejam afixados do lado de fora dos locais de votação.  A suspeita dos opositores é que os resultados destes locais não foram colocados porque estão sendo sejam manipulados pelo governo, que nega a acusação. 

O resultado da eleição presidencial ainda não foi divulgado. A comissão eleitoral tem, por lei, até dia 4 de agosto para finalizar e informar a contagem dos votos. Caso nenhum dos 23 candidatos conquiste mais de 50% dos votos, haverá segundo turno em setembro.

Manifestantes entram em confronto com a polícia

O anúncio da vitória governista no parlamento em meio a denúncias de irregularidades fez os opositores protestarem na frente do hotel onde está sendo realizada a contagem de votos, na capital Harare, mas o que começou como uma manifestação pacífica acabou em confronto com as forças de segurança nacionais.

Segundo as agências de notícias Reuters e Associated Press, três pessoas morre,

Um vendedor corre para se esconder com seus produtos enquanto os soldados dispersam os manifestantes em 1º de agosto de 2018, em Harare, depois que os protestos surgiram devido a supostas fraudes nas eleições do paísZINYANGE AUNTONYAFP

Manifestantes bloquearam ruas próximos ao local e jogaram pedras nos policiais, que responderam usando canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo. Segundo a agência Reuters, foram ouvidos tiros pela cidade e um helicóptero sobrevoava a região. 

Nas redes sociais, Chamisa acusou a comissão de divulgar os resultados da eleição parlamentar antes para preparar a população para uma vitória de Mnangagwa na disputa pela presidência. 

"A estratégia tem como objetivo preparar o Zimbábue mentalmente para aceitar resultados presidenciais falsos. Nós temos mais votos do que EM (Emmerson Mnangagwa). Nós ganhamos o voto popular e vamos defendê-lo", escreveu. 

Mnangagwa, que durante anos foi o responsável por comandar as forças de segurança do país, assumiu a Presidência em novembro do ano passado no lugar de Mugabe, que foi forçado a renunciar pelos militares —ele estava no poder desde 1980. Ele pediu, também pelas redes sociais, que a população se mantenha calma e tenha paciência enquanto aguarda os resultados. 

Eleições decisivas para o futuro do país

A missão de observação da União Africana disse na quarta-feira que as eleições foram, em geral, "bem administradas", apesar de notar que a mídia era muito polarizada e tendenciosa. 

Os observados da União Europeia fizeram uma análise semelhante e disseram que não entendem a demora para a publicação dos resultados. Eles criticaram o controle da imprensa, a falta de transparência da votação e a intimidação dos eleitores, mas afirmaram que a realização do pleito mostrou um avanço da democracia no país.

Leia mais: Milhares vão às urnas na primeira eleição do Zimbábue sem Mugabe como candidato

Nesta segunda (30) os zimbabuanos foram às urnas em um pleito que, pela primeira vez, não apresentava o nome de Mugabe na cédula de votação. 

Esta eleição é um teste importante para o Zimbábue, já que o país tenta reconstruir sua economia e posição no cenário internacional após 37 anos do regime de Robert Mugabe. Autoridades esperam que uma eleição credível possa anunciar uma nova era para o país e trazer de volta o investimento estrangeiro e a prosperidade. 

Os Estados Unidos e a União Europeia deixaram claro que uma eleição confiável é sua principal condição para a suspensão de sanções contra vários funcionários da era Mugabe e para apoiar o resgate do Zimbábue junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas essas esperanças podem ser ameaçadas se os defensores do MDC sentirem que a eleição foi prejudicada por questões e abusos, como aconteceu com frequência sob a ditadura de Mugabe.

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