Depois de três adiamentos e 18 dias após o prazo, o Irã e as potências que integram o P5+1 (Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, França, Alemanha e China) assinaram ontem o acordo para limitar o programa nuclear iraniano. Considerado uma vitória para os presidentes dos EUA, Barack Obama, e do Irã, Hassan Rouhani, o documento de mais de 100 páginas provocou mal-estar entre os dois principais aliados dos EUA no Oriente Médio, Israel e Arábia Saudita.
“Todos os caminhos para uma arma nuclear foram cortados.”
O resultado da negociação (leia os detalhes ao lado) alivia 36 anos de animosidades entre americanos e iranianos, cujas relações ficaram abaladas após a revolução islâmica no país persa, em 1979. Os EUA então se aproximaram da Arábia Saudita, um rival do Irã pela hegemonia na região. Historicamente o Irã apoia aos xiitas no Oriente Médio, enquanto a Arábia Saudita é próxima dos sunitas. O acordo causou ainda uma dura reação de Israel, que vê o Irã como uma ameaça.
A população comemorou a assinatura do acordo nas ruas das principais cidades do Irã, já que a economia do país vem sendo estrangulada pelas sanções econômicas impostas por União Europeia e EUA. Sucessor de Mahmoud Ahmadinejad, que era considerado um ultraconservador dentro do país, Rouhani iniciou sua aproximação dos EUA em 2013, com um telefonema histórico para Obama.
Internamente, os dois presidentes ainda terão que enfrentar os linhas-duras que se opõem ao acordo. Obama prometeu vetar qualquer medida que impeça a implementação do pacto — um recado claro para o Congresso, que tem 60 dias para revisar o texto. O acordo também será submetido ao parlamento do Irã.
“Hoje é o fim da tirania contra nossa nação e o início da cooperação com o mundo.”
“O acordo não é baseado na confiança, mas na verificação. Um acordo abrangente e de longo prazo com o Irã vai impedi-lo de obter uma arma nuclear”, disse Obama na Casa Branca. Segundo ele, o Irã ficará impedido de desenvolver armas nucleares pelos próximos 25 anos. A aproximação com o Irã foi uma promessa feita por Obama em seu discurso de posse e é uma aposta de seu legado na área da política externa.
O iraniano, por sua vez, disse que o acerto é “justo” e negou que o Irã tinha o objetivo de fabricar uma arma nuclear. “Graças à resistência mostrada pela nação iraniana, hoje podemos dizer que temos um acordo que reconhece os nossos interesses nacionais de segurança e econômicos. Temos um acordo em que todos ganham, um acordo justo”.
O prazo para o fim das negociações era o dia 30 de junho, mas o impasse em relação ao embargo à compra de armas pelo Irã, imposto pela ONU, atrasou a conclusão das negociações em Viena, na Áustria. O Irã exigia a suspensão imediata do embargo, mas aceitou um cronograma.
O que foi definido
Urânio
O Irã terá de reduzir seu estoque de urânio em 98% e limitar seu enriquecimento a 3,6%, o que inviabiliza a fabricação de armas nucleares.
Centrífugas
Nos próximos dez anos, o Irã deverá reduzir o número de centrífugas nucleares de aproximadamente 19 mil para 6,1 mil. Isso reduz as chances de o país desenvolver uma arma nuclear rapidamente caso descumpra o acordo.
Inspeções da ONU
Teerã deverá permitir que inspetores da ONU tenham acesso ao país para supervisionar o programa nuclear.
Sanções econômicas
As sanções econômicas impostas ao Irã pela União Europeia, pelos Estados Unidos e pela ONU serão retiradas quando os inspetores checarem que o país cumpriu o que foi acordado em relação ao seu programa nuclear.
US$ 100 bilhões
Do Irã estão congelados no exterior. O acordo prevê que o país possa sacar este valor.
Sanções a armas
O impasse que atrasou o fim das negociações só foi superado nas últimas horas. O Irã queria a suspensão imediata dos embargos, o que não foi aceito pelas potências. As sanções à compra de armas convencionais serão derrubadas em até 5 anos; já as sanções à compra de mísseis serão derrubadas em 8 anos.