Ela usa cadeira de rodas e carrega o peso dos seus 87 anos. Mesmo assim, Clélia Luro parece forte o bastante para fazer a Igreja Católica prestar atenção na sua campanha pelo fim do celibato obrigatório para os padres. Essa mulher, que se tornou parceira de um bispo nos anos 1960, é tão íntima do papa Francisco que ele ligava para ela todos os domingos quando era cardeal na Argentina.
Clélia está convencida de que Francisco vai eventualmente acabar com o celibato obrigatório, uma exigência que "o mundo não suporta mais". Ela acredita que isso pode resolver o problema da escassez global de padres, além de convencer muitos católicos que estão afastados da Igreja a renovarem sua fé. "Eu acredito que, com o tempo, o celibato vai se tornar opcional. Eu tenho certeza de que o papa vai sugerir isso", comentou.
João Paulo II, Bento XVI e outros papas antes deles proibiram qualquer discussão pública sobre o assunto, e Francisco ainda não mencionou essa questão desde que assumiu a liderança da Igreja. "Eu não vejo como isso pode, de alguma forma, fazer parte da agenda dele", afirma Robert Gahl, teólogo da corrente Opus Dei e professor da Pontifícia Universidade da Sagrada Cruz, em Roma.
Porém, quando era cardeal, Jorge Mario Bergoglio, se referiu ao assunto do celibato de uma forma que inspirou defensores do tema a acreditar que pode haver uma mudança no futuro. No seu livro No Céu e na Terra, publicado no ano passado, ele afirma que "no momento, eu sou a favor da manutenção do celibato, com seus prós e contras, porque nós temos dez séculos de boas experiências, em vez de fracassos". Entretanto, ele aponta também que "essa é uma questão de disciplina, não de fé, e pode mudar". Segundo ele, a Igreja Católica Oriental, onde o celibato é opcional, tem bons padres.
"No caso hipotético de a Igreja decidir revisar essa regra, seria por uma razão cultural, assim como aconteceu na Igreja Ortodoxa, onde eles ordenam homens casados", afirmou o líder da Igreja no livro Papa Francisco: Conversas com Jorge Bergoglio, relançado no mês passado pelos biógrafos Sérgio Rubin e Fracesca Ambrogetti.