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Alexander Litvinenko, o Sacha, ex-agente da FSB (a antiga KGB) ficou famoso no final dos anos 90 ao afirmar em uma entrevista, cercado de agentes mascarados, que alguns de seus ex-colegas, chefiados na época pelo desconhecido Vladimir Putin, planejavam assassinar o empresário russo Boris Berezovski. Pouco depois de Putin chegar ao Kremlin, Sacha, ameaçado, precisou fugir para a Turquia com a mulher e o filho.

Em outubro de 2000 o biólogo e ativista político Alex Goldfarb recebe um telefonema de Berezovski pedindo ajuda para Litvinenko. Goldfarb, então, seguiu para a Turquia e, numa seqüência de eventos digna de filme, conseguiu levá-lo com a mulher e o filho para a Grã-Bretanha, onde pediram asilo.

Em 2006, no entanto, Sacha foi envenenado por uma substância radioativa rara, o polônio-210, e em meio a sua agonia acusou Putin de ser o mandante do crime. A viúva Marina Litvinenko, que viveu todo o drama ao lado do marido, acaba de lançar um livro em co-autoria com Goldfarb ("Morte de um dissidente", da Companhia da Letras), em que conta em detalhes os bastidores dessa história digna da Guerra Fria. Em entrevista ao jornalista Leonardo Valente, ela diz que ainda tem medo de cair nas mãos dos agentes de Putin.

A principal tese do livro "Morte de um dissidente" é a de que Alexander Litvinenko foi morto por agentes russos e que o motivo foi a rivalidade entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o empresário e ex-político Boris Berezovsky. A senhora está certa de que essa é a verdade?

MARINA LITVINENKO: Sim. Existem várias evidências que mostram isso. Nossa história e os acontecimentos descritos no livro já seriam suficientes para apontarmos os agentes secretos russos como os responsáveis pela morte de Sasha (Litvinenko). E as circunstâncias do crime não deixam muita margem para dúvidas. A substância radioativa que o matou, o polônio-210, é rara e muito perigosa. Segundo especialistas, teve de ser processada em uma unidade especializada e transferida sem risco e discretamente para Londres, o que demanda uma operação extremamente complexa, feita com orientação altamente qualificada. Isso só poderia ter sido feito pelo alto escalão russo. Não é tarefa para qualquer um ou qualquer grupo. As evidências são muito fortes.

A senhora já disse em outras ocasiões que esse assassinato era um fato que poderia provocar instabilidade internacional. Por quê?

MARINA: Sasha foi a primeira vítima fatal no mundo de um ataque nuclear terrorista. E esse foi um ataque que fez mais vítimas, cidadãos britânicos, atingidos em território britânico. Todo mundo sabe que ele morreu por causa da radiação, mas poucos se dão conta de que várias outras pessoas foram contaminadas e vivem hoje em tratamento, com sérios problemas de saúde. Esses são fatos mais do que suficientes para provocar um grande problema diplomático entre a União Européia e a Rússia, se as autoridades comprovarem as responsabilidades. Felizmente estou com saúde, mas nesses últimos meses pensei muito naquelas vítimas inocentes que ainda sofrem. É muito duro para elas e para mim também.

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