O Partido Republicano dos Estados Unidos abriu a temporada de debates com oito pré-candidatos às primárias na última quarta-feira (23), sem a presença do ex-presidente e favorito para ser o concorrente da legenda à Casa Branca, Donald Trump.
A principal aposta da noite era o governador da Flórida, Ron DeSantis, que enfrenta obstáculos na corrida eleitoral, mas se mantém como segundo colocado nas pesquisas de opinião.
O que ninguém esperava, contudo, era que o protagonismo viria de um terceiro nome, até então desconhecido e difícil de pronunciar: Vivek Ramaswamy, jovem empresário de Ohio de 38 anos.
Filho de imigrantes indianos, o pré-candidato nunca concorreu a cargos públicos e disse durante o primeiro debate que não votou nas últimas cinco eleições presidenciais, entre 2004 e 2020.
Em seus discursos, o novato político se apresenta como um “outsider” e “anti-woke” - já escreveu três livros sobre o assunto, nos quais critica a onda esquerdista de políticas públicas que envolvem ESG (sigla em inglês que representa sustentabilidade ambiental, social e de governança corporativa) e ideologias de gênero e raça.
Segundo ele afirmou em um artigo ao The Wall Street Journal logo que anunciou sua pré-candidatura em março deste ano, os Estados Unidos vivem “uma crise de identidade” nos últimos governos, que provocou o declínio do patriotismo entre os americanos.
“Assumimos religiões seculares como o climatismo, ‘covidismo’ e ideologia de gênero para satisfazer nossa busca por sentido, mas nada disso responde às questões sobre a identidade do americano", afirmou.
Com isso, sua principal mensagem ao concorrer à vaga republicana é reformular o slogan trumpista de “tornar os EUA o melhor país de novo para os americanos”, construindo uma identidade sólida em torno de suas propostas de governo.
Um ponto central apresentado em sua pré-candidatura é o de defender o sistema capitalista, que, segundo ele, une todos os lados políticos. À Forbes, Ramaswamy disse que “tanto democratas quanto republicanos se sentem mais orgulhosos do país quando estão bem financeiramente”.
Durante o debate e nas redes sociais, desde o início da pré-campanha, se disse contra o aborto, que ele considera “assassinato”.
Mas, para Ramaswamy, a questão não deve ser legislada pelo governo federal e sim em nível estadual, como já é feito desde que a Suprema Corte americana derrubou a jurisprudência federal do caso Roe vs. Wade no ano passado.
Ele defende que cada estado deveria proibir o aborto em até seis semanas de gestação. “As leis de homicídio são tratadas em nível estadual, o aborto é uma forma de assassinato, com isso, não faz sentido que a Suprema Corte federal assuma a responsabilidade de legislar sobre o assunto”, afirmou em entrevista à CNN.
Outra questão levantada durante o debate foi a imigração, pauta sempre presente nas discussões republicanas e sobre a qual o pré-candidato apresentou um posicionamento até mais rígido que os demais.
Para Ramaswamy, um filho de imigrantes indianos que chegaram ao país de forma legal e “construíram seus negócios do nada”, segundo afirmou em uma entrevista, os EUA devem fortalecer suas fronteiras, principalmente com o México, e combater a imigração ilegal, realizando a deportação em massa de pessoas que querem permanecer sem documentação no país.
Seu projeto de governo ainda conta com propostas mais “autorais”, como a mudança na idade mínima para participação eleitoral.
O político novato deseja aumentar a idade do direito ao voto para 25 anos, com algumas condições para os mais novos que desejassem participar das eleições.
Os que tiverem mais de 18 anos também poderão votar se prestarem um “serviço nacional”, como seis meses nas Forças Armadas ou como socorrista de emergência, propõe Ramaswamy. Outra possibilidade é passar em um teste semelhante ao de cidadania.
O pré-candidato também é a favor de abolir alguns departamentos de Estado, como o de Educação, o FBI e repartições da Receita Federal.
Para Ramaswamy, há muitos órgãos “redundantes” no país e, caso eleito, iria fazer uma reorganização desses departamentos e seus respectivos orçamentos.
Sobre a guerra na Ucrânia, diferentemente do posicionamento do presidente democrata Joe Biden, que tem apoiado o país europeu no combate às tropas russas com o envio de ajuda humanitária, financeira e militar, Ramaswamy defende a concessão de territórios para o fim da guerra e um armistício.
“Entendo que precisamos acabar com a guerra em termos pacíficos, com algumas concessões à Rússia, em um acordo de armistício semelhante ao das Coreias”, disse à ABC News.
O jovem que ganhou destaque nesse primeiro embate político da legenda republicana ainda prometeu um governo “anti-China”, encerrando as negociações comerciais com o país comunista, que ele considera “o principal inimigo dos EUA”
O seu financiamento de campanha vem do próprio bolso. O jovem político é formado em biologia em Harvard e direito em Yale. Ele é dono de duas empresas: uma no ramo de biotecnologia e outra na gestão de ativos financeiros.
De acordo com uma lista da Forbes, os negócios o posicionaram entre os 20 jovens mais ricos do país, com um patrimônio de US$ 1 bilhão. Entre os pré-candidatos republicanos, ele fica em segundo lugar em patrimônio, atrás somente de Trump, com fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões.
O próximo debate dos pré-candidatos republicanos está marcado para acontecer na Califórnia no próximo mês.
O ex-presidente Donald Trump afirmou que não participará das discussões com os demais pré-candidatos devido à sua vantagem nas pesquisas eleitorais. Além disso, o político enfrenta diversas acusações criminais pelo país.
Na última quinta-feira (24), se apresentou na prisão do condado de Fulton, em Atlanta, onde foi fichado e liberado após pagar fiança pela acusação de envolvimento na suposta tentativa de reverter os resultados das últimas eleições presidenciais na Geórgia, nas quais foi derrotado por Biden.
Ramaswamy foi o participante do debate que mais defendeu o ex-presidente. Em uma de suas falas, ele considerou Trump “o melhor presidente do século XXI”.
Caso ganhe as eleições presidenciais, prometeu conceder indulto ao político republicano pelas quatro acusações criminais pelas quais foi indiciado nos últimos meses.
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