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Batizada

Vodca falsificada mata russos às dezenas

A venda de vodca falsificada e contaminada com substâncias tóxicas transformou a bebida nacional da Rússia em um veneno e está matando moradores do país às dezenas.

Centenas de russos morreram de hepatite e de falência do fígado nas últimas semanas após ingerir vodca contaminada. O fato deixou os legisladores do país alarmados e levou o procurador-geral russo a determinar, na quarta-feira, uma ação de combate aos fabricantes ilegais da bebida alcoólica.

Cidades do interior da Rússia, do mar Báltico à Sibéria, declararam estado de emergência e milhares de outras vítimas -- que são principalmente pessoas pobres -- estão recebendo atendimento médico em meio a uma falta de leitos hospitalares.

A polícia deu início a investigações criminais para encontrar a origem da vodca tóxica. ``O país enfrenta atualmente uma situação de emergência provocada pelo envenenamento decorrente do consumo de bebidas alcoólicas ilegais'', afirmou o gabinete do procurador-geral em um comunicado.

``Houve um aumento bastante grande no número de bebidas alcoólicas proibidas e falsificadas.''

A vodca, um marco do estilo de vida russo, é há centenas de anos o drinque preferido do país. Doses da bebida incolor e forte são usadas para celebrar qualquer coisa, para acalmar os nervos, para selar acordos comerciais e para afogar as mágoas.

A ``samogon'' -- vodca caseira -- também circula há séculos, levando alívio aos trabalhadores pobres e provocando tristeza entre os familiares deles.

Mas a vodca envenenada que está matando várias pessoas é algo diferente, e mais mortífero. Muitas pessoas culpam uma nova regulamentação imposta pelo governo em julho pelo surto atual de envenenamentos.

A nova lei foi elaborada com o intuito de proteger os consumidores dos produtos ilegais e obriga os fabricantes a requererem um novo registro e a adotarem medidas de higiene, fatos que encarecem o produto final.

Os esforços para coibir o consumo de álcool contaram, no passado, com a reprovação da opinião pública.

Uma campanha desse tipo realizada em 1986 pelo líder soviético Mikhail Gorbachev provocou um aumento na fabricação de vodca de baixa qualidade. E os russos aprenderam a beber perfumes e outros líquidos caseiros de base alcoólica.

Loção

Os novos-ricos da Rússia podem circular pelas ruas de Moscou a bordo de carros luxuosos de último tipo vindos do Ocidente, mas há milhões de pessoas vivendo na pobreza nesse país, pessoas que precisam contar seus rublos para comprar a próxima garrafa. Eles não podem pagar muito pela bebida.

``A partir de 1o de julho, as autoridades criaram as licenças para distribuição atacadista de líquidos contendo álcool. Em agosto, começou a onda de contaminação'', afirmou à Reuters Pavel Shapin, chefe da Associação Nacional do Álcool.

``O problema é que as pessoas começaram a beber produtos anti-sépticos.'' Os anti-sépticos são usados para limpar ferimentos e, pelo fato de serem medicamentos, não são alvo da nova regulamentação.

Segundo reportagens publicadas no país, há casos nos quais foram acrescentados à vodca óleo de freio, água de colônia, limpadores de vidro, combustível líquido e loção pós-barba.

Os canais de TV russos misturam as imagens de pessoas gravemente doentes, amarelecidas devido à hepatite ou à falência de seus fígados, com imagens de agricultores e operários russos bebendo vodca alegremente.

``A vodca é muito importante para os russos'', afirmou a socióloga Olga Kryshtanovskaya. ``Os moradores de vilarejos sempre quiseram fabricar e sempre fabricaram vodca caseira, mesmo cem ou 200 anos atrás, e isso porque eles precisam da bebida.''

Mas não há apenas notícias ruins a respeito, disseram nesta semana autoridades e órgãos de comunicação ligados ao governo.

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas matou 17 mil pessoas na Rússia, nos primeiros nove meses deste ano, mostraram dados oficiais. A cifra aponta uma redução de cerca de 4.000 mortes quando comparada com a cifra do mesmo período de 2005. ``Neste ano, a situação melhorou um pouco,'' disse à agência de notícias RIA, na quarta-feira, Boriz Gryzlov, vice-presidente da Duma (câmara baixa do Parlamento russo). ''Mas essa é ainda uma cifra horrível.''

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