No inverno de 1962, a nação precisava de um herói.
Os americanos ainda não haviam se recuperado do impacto do lançamento da primeira espaçonave da União Soviética, a Sputnik, em outubro de 1957 um duro golpe à nossa confiança como líderes mundiais em tecnologia. A corrida espacial havia começado.
Logo após assumir o cargo em 1961, o presidente John F. Kennedy havia lançado o desafio de enviar homens à Lua até o final da década. Mas os russos, confiantes, ainda davam as cartas. Eles lançaram um cão em órbita, depois o primeiro homem, Yuri A. Gagarin, e outro, Gherman S. Titov.
Os Estados Unidos ficaram para trás, conseguindo apenas dois voos suborbitais de 15 minutos apenas 5 minutos por vez de gravidade zero. Então, em 20 de fevereiro de 1962 data que irá completar 50 anos segunda-feira que vem um piloto dos fuzileiros navais de uma cidade pequena da América deu um passo em frente em resposta à necessidade da nação. O astronauta era John Glenn, que o autor Tom Wolfe chamou de "o último verdadeiro herói nacional que a América teve".
Apertado na cabine de pilotagem de uma espaçonave do programa espacial Mercury chamada Friendship 7, lançada por um foguete Atlas no Cabo Canaveral, Flórida, Glenn deu três voltas em torno da Terra, se tornando o primeiro americano a orbitar o planeta. Talvez nenhuma outra viagem espacial com todas as suas 4 horas, 55 minutos e 23 segundos de voo tenha sido acompanhada por uma apreensão tão paralisante.
Glenn viu o sol nascer e se pôr três vezes naquela terça-feira, de uma altitude máxima de 260 quilômetros. A cada nascer do sol, uma explosão do que parecia ser vagalumes aparecia do lado de fora da janela e o mistificava. Depois veio um sinal de um suposto problema que fez com que os controladores se preparassem para uma reentrada na atmosfera possivelmente catastrófica.
A história teve um final feliz. Por todo o país um suspiro de alívio coletivo foi ouvido. O presidente correu ao Cabo Canaveral para saudar o herói que retornava. Fanfarras tocaram. Confetes foram jogados de janelas elevadas na Broadway. Pessoas choraram. Não importava que um cosmonauta soviético já havia passado 25 horas em órbita. Como escreveu Wolfe, "John Glenn havia nos unificado novamente!"
Agora, com 90 anos, em duas longas entrevistas, Glenn foi lembrado de que o autor do livro The Right Stuff ("A Coisa Certa", em tradução livre, adaptado para o cinema em 1983 com o título, em português, "Os Eleitos Onde o Futuro Começa") o julgava o último verdadeiro herói da nação. Sua resposta foi tímida, mais ou menos como um "poxa".
"Eu não penso assim sobre mim mesmo", disse Glenn. "Eu me levanto todos os dias e tenho os mesmos problemas que as outras pessoas com a minha idade. Quanto à analise de toda a atenção que recebi, eu prefiro deixar isso para os outros".
De sua parte, Wolfe manteve sua caracterização, dizendo que um herói nacional era alguém visto como um "grande protetor" do povo. "Ele não era um protetor de verdade, mas é isso o que as pessoas sentiam e pensavam", disse ele de Glenn numa entrevista semana passada. "Ele as fez chorar, e isso faz dele um herói".
Tradução: Adriano Scandolara.