Moscou As eleições regionais de hoje na Rússia, de São Petersburgo à Sibéria, são o tiro de largada para o que promete ser um ano de votações coreografadas, produtos de uma persistente campanha do Kremlin para controlar o processo político e garantir uma sucessão tranqüila quando o presidente Vladimir Putin se retirar.
Impedido pela Constituição de buscar um terceiro mandato consecutivo em março de 2008, Putin oferece fortes indícios de que escolherá um sucessor e continuará a exercer influência uma perspectiva lucrativa num país rico em recursos energéticos onde a política e os negócios são intimamente ligados.
Com tanta coisa em jogo, Putin evidentemente não quer deixar muita margem para o acaso: o sistema em vigor para as votações regionais e para a eleição parlamentar nacional de dezembro foi elaborado pelo Kremlin durante anos de esforços que, segundo seus críticos, sufocaram o pluralismo e rebaixaram a democracia.
Nas eleições, dois grandes partidos disputam cadeiras em 14 assembléias regionais. Um punhado de grupos menores completa a cédula eleitoral.
Pode parecer um exercício normal de democracia, mas os ingredientes principais são: leis eleitorais restritivas que, segundo Putin, tornaram-se necessárias depois dos ataques terroristas de 2003; um rígido controle governamental da televisão; armadilhas burocráticas para atrapalhar oponentes; e a criação de um partido político destinado a ampliar a base de apoio do Kremlin e equilibrar forças na elite potencialmente indisposta.
O Rússia Justa, partido criado no ano passado por meio de uma fusão, está no centro da estratégia do Kremlin para controlar o sistema político. O grupo é liderado pelo presidente da Câmara Alta do Parlamento, Sergei Mironov, que demonstrou lealdade a Putin em 2004 concorrendo contra ele no que chamou de gesto de apoio.
A iniciativa foi vista como uma manobra para dar aparência de competição à vitória certa de Putin.
Analistas dizem que o objetivo é ajudar a garantir a autoridade e a estabilidade do sucessor escolhido por Putin: o Rússia Justa oferece uma base de apoio alternativa para o presidente além do Rússia Unida que, apesar de dominar o Parlamento, é muito menos popular que o próprio chefe de Estado.
Embora haja sinais de competição genuína entre o Rússia Justa e o Rússia Unida na campanha regional, analistas sublinham que a principal ideologia dos dois grupos é o apoio a Putin.