• Carregando...
 | Genya Savilov/AFP
| Foto: Genya Savilov/AFP

A intensa propaganda do governo da Rússia e pressões variadas sobre grupos como funcionários públicos parece estar dando certo, e tudo indica que a eleição presidencial na país terá o comparecimento maciço desejado pelo Kremlin. As denúncias de fraude se multiplicam pelo país.

As votações já acabaram nas regiões do Extremo Oriente russo, nove horas à frente de Moscou. Em Kamchatka, houve várias seções com 100% de presença. No cômputo geral, quase todos os distritos eleitorais tiveram aumento de comparecimento em relação à eleição de 2012. A região de Magadan lidera a tendência, com 65% de presença, contra 52% no pleito presidencial passado.

Em Moscou, até as 12h locais (6h em Brasília) 17% do eleitorado havia comparecido, contra 13% no mesmo horário em 2012. O presidente Vladimir Putin, favorito absoluto à reeleição, votou no centro da cidade perto das 10h. Na saída da seção eleitoral da Academia Russa de Ciências, foi perguntado por repórteres qual seria a votação que ele consideraria satisfatória. “Qualquer número de votos que me dê o direito de executar o papel de presidente”, afirmou ele, que disse votar em si mesmo porque acredita no seu programa.

Um comparecimento entre 60% e 70%, mais próximo do teto, é o número mágico do Kremlin para considerar o pleito devidamente legítimo após vários questionamentos. O ano de 2017 viu surgir um movimento de oposição baseado em convocações pela internet, liderado pelo ativista Alexei Navalni, que promoveu atos gigantescos em toda a Rússia. A abstenção no pleito parlamentar regional de setembro em Moscou chegou a 88%.

A rede de Navalni e ONGs como a Golos estão monitorando denúncias de fraudes por todo o país. Em Chita (Sibéria), eleitores flagraram as urnas de plástico translúcido com votos dentro antes da abertura de uma seção eleitoral, mas os mesários disseram que se tratava de votos de policiais em serviço que precisavam ir às ruas. Em Krasnodar, no centro do país, câmeras de segurança flagraram uma mulher colocando vários votos na urna de uma só vez.

A vigilância eletrônica é a grande estrela desta eleição. Há sites dedicados a condensar imagens de câmeras de toda a Rússia, o que teoricamente aumenta a transparência do processo. Mas há inúmeros casos de jeitinhos dados nos postos de votação: balões coloridos obstruem a imagem, câmeras são viradas para longe do local das urnas. De todo modo, o que emergiu até aqui não permite dizer que há alguma fraude de larga escala em curso. A Comissão Eleitoral Central informou que não há violações sérias.

Monitoramento e fraudes

O time de Navalni foca especialmente o pleito na Tchetchênia, que sob o jugo do aliado de Putin Ramzan Kadirov tornou-se um dos locais mais repressivos de toda a Rússia. Usualmente o comparecimento às urnas lá é algo coercitivo, com ameaças feitas por apoiadores do governo a quem não sai de casa e vista grossa das autoridades. Navalni tem 53 monitores no local.

Há diversos observadores internacionais no país. A OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) tem um time de 73 monitores em várias regiões, e irá divulgar na segunda (19) seu balanço.

A própria equipe de Putin diz ter treinado 100 mil voluntários para acompanhar o pleito, mas nenhum deles era visível nas quatro seções que a Folha visitou no centro de Moscou na manhã deste domingo (18).

Já apoiadores de Navalni, que lideram também uma campanha de boicote contra o pleito porque seu líder foi barrado de concorrer por ter uma condenação judicial que contesta, estavam presentes em duas delas.

“É uma fraude, mas claro que não podemos impedir ninguém de votar”, disse Guennadi, jovem de 18 anos que já havia participado de atos contra o governo no ano passado, em frente à seção da escola número 532, no elegante bairro de Zamovskvorechie.

O local abrigava uma tradição de eleições russas desde o tempo da União Soviética, quando o voto também não era obrigatório: uma feira de alimentos com desconto para atrair eleitores. Frutas e cerveja estavam 20% mais baratas do que no “produkti”, o mercadinho de esquina onipresente na Rússia, mais próximo. 

Sempre foi assim, mas o advento das mídias sociais trouxe imagens ainda mais curiosas de locais do interior do país. Sorteios de eletrônicos, shows com garotas de biquíni e assemelhados inundaram a internet, assim como as também tradicionais imagens de eleitores fantasiados.

O próprio Navalni ironizou em sua conta no Twitter, mostrando a foto de um sujeito com uma fantasia de foguete com o nome Sarmat - uma das novas armas nucleares que Putin apresentou com pompa em seu discurso anual sobre o estado da nação na semana retrasada.

A segurança estava reforçada na escola, com um detector de metais e um policial à porta da escola, mas dentro dela o trabalho normal. Sem fila, eleitores apresentavam seu passaporte e recebiam a cédula, que é uma folha grande de papel com as opções, marcava seu voto dentro de uma cabine de pano e o depositava na urna de plástico.

Na praça Vermelha, coração da cidade, um grande palco está montado em uma de suas saídas para um evento em comemoração à anexação da Crimeia, ocorrida em 2014 e considerada um trunfo geopolítico de Putin reconhecido pelo eleitorado. Desde então, o presidente surfa acima dos 80% de popularidade.

A eleição deste ano teve sua data atrasada em uma semana por determinação da Duma (Parlamento) justamente para coincidir com a comemoração do aniversário da reabsorção do território de maioria russa que havia sido cedido à Ucrânia.

À noite, haverá um concerto no local e há a expectativa de que Putin, provavelmente já com a notícia de sua reeleição garantida, faça uma aparição e fale ao público. O policiamento está redobrado na região, com diversos acessos à praça e ao Kremlin, que fica nela, fechados.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]