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Com minoria rebelde dentro dos republicanos resistindo a votar em líder correligionário, eleição deste ano foi a que exigiu mais votações na casa desde 1859
Com minoria rebelde dentro dos republicanos resistindo a votar em líder correligionário, eleição deste ano foi a que exigiu mais votações na casa desde 1859| Foto: EFE/EPA/SHAWN THEW

Em novembro, o Partido Republicano já havia se frustrado com o resultado das eleições de meio de mandato presidencial nos Estados Unidos: ao contrário da vitória esmagadora que a oposição projetava, os democratas, legenda do presidente Joe Biden, mantiveram maioria apertada no Senado e a oposição recuperou o controle da Câmara dos Representantes, mas com apenas dez cadeiras a mais que o partido governista.

Entretanto, o constrangimento para os republicanos prosseguiu nesta semana. Na madrugada deste sábado (7), na 15ª votação em cinco dias, o partido finalmente obteve consenso para a eleição do presidente da Câmara e o líder Kevin McCarthy conseguiu o número mínimo de votos para ser escolhido. Ele recebeu 216 votos do plenário da casa, contra 212 do democrata Hakeem Jeffries.

Nas votações anteriores, deputados do Freedom Caucus, ala mais conservadora do Partido Republicano, estavam destinando votos para outros indicados da legenda, impedindo que McCarthy chegasse à contagem necessária para vencer.

Até o ex-presidente Donald Trump (2017-2021), que não é deputado (a lei americana permite que pessoas que não sejam parlamentares presidam a Câmara), foi votado. Ele mesmo pediu na quarta-feira (4) para que seus apoiadores entre os rebeldes do Freedom Caucus votassem em McCarthy, mas a disputa continuou.

Foi a primeira vez desde 1923 que a Câmara dos Estados Unidos não elegeu um presidente em primeira votação. Naquela ocasião, foram necessárias nove votações para sair um vencedor. A eleição deste ano foi a que exigiu mais votações desde 1859, quando o ganhador só saiu na 44ª consulta.

Sem definir um presidente, a casa não podia desempenhar nenhuma atividade, como dar posse aos novos deputados e definir a composição das suas comissões. Ou seja, por uma divisão interna do partido majoritário, um poder da principal democracia do mundo ficou paralisado durante quatro dias.

“Os republicanos conquistaram uma maioria na Câmara não muito ampla, de 222 cadeiras contra 212 dos democratas. Pela lógica, eles teriam a maioria, mas há uma divisão interna: há um grupo de deputados rebeldes conservadores, mais à direita, que se recusavam a votar no McCarthy porque o consideram muito centrista, muito ligado aos grandes escritórios de advocacia de Washington e até próximo dos democratas, de interesses empresariais, e nem tanto da pauta conservadora que eles defendem, na parte dos tributos e costumes”, explicou Ricardo Bruno Boff, professor do curso de relações internacionais da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Segundo informações da imprensa americana, McCarthy fez concessões aos rebeldes do Freedom Caucus para resolver o impasse, como concordar com a tramitação de um projeto de lei para permitir que apenas um deputado possa convocar votação para destituir o presidente da Câmara e de outro para estabelecer limite de mandatos parlamentares.

Nesta sexta-feira (6), a maior parte dos cerca de 20 deputados republicanos que haviam rejeitado McCarthy nos dias anteriores passou a votar nele, e a disputa foi finalmente resolvida.

Ajuda aos democratas

Parlamentares republicanos e apoiadores temem que a divisão interna exposta na eleição para a presidência da Câmara impeça que o partido emplaque sua agenda na casa e dificulte a fiscalização do governo Biden. “Estamos desperdiçando nosso capital político, o capital que o povo americano nos deu em novembro”, disse Maria Salazar, deputada da Flórida, à ABC News.

Jim Geraghty, correspondente político sênior da revista conservadora National Review, apontou em artigo que a disputa “levanta a questão de saber se certos republicanos da Câmara preferem o conforto de estar na minoria e se enfurecer com sua impotência, em vez de enfrentar o trabalho árduo e os difíceis compromissos que são requisitos para operar em uma maioria”.

“Quanto mais tempo é gasto discutindo os méritos de Kevin McCarthy contra os de... bem, mais ninguém agora, menos tempo está sendo gasto discutindo o que o governo Biden está fazendo com o país”, argumentou Geraghty, antes da votação final deste sábado.

Nesse sentido, embora Biden tenha declarado que a indefinição era “embaraçosa” para os Estados Unidos, Boff acredita que as disputas entre os republicanos podem fortalecer o presidente num cenário em que seu partido perdeu maioria na Câmara.

“Os democratas estão unidos diante disso, tentando recuperar espaço... se o adversário racha, automaticamente o Partido Democrata se fortalece”, destacou o especialista, que apontou que um aprofundamento da divisão interna dos republicanos pode levar até mesmo à criação de um grande terceiro partido americano.

“As divisões ocorrem não só entre os dois grandes partidos, mas também dentro deles, o que mostra que num futuro próximo o sistema bipartidário dos Estados Unidos pode chegar ao fim. A complexidade política, as divisões políticas já não são devidamente representadas por uma estrutura bipartidária”, argumentou Boff.

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