O protesto eleitoral de muitos italianos enfurecidos com as dificuldades econômicas e com a corrupção na política empurra na segunda-feira (25) o país a um impasse pós-eleitoral, já que as projeções indicam que nenhuma coalizão terá força suficiente para formar um novo governo.

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Com mais de dois terços dos votos apurados, a centro-esquerda parece ter uma ligeira vantagem na disputa pela Câmara, mas aparentemente nenhum grupo conseguirá formar maioria no Senado. Esse seria o oposto do resultado estável do qual a Itália precisa desesperadamente para combater a recessão, o desemprego e a dívida pública.

Os mercados da Itália - terceira maior economia da zona do euro - pareceram assustados com o andamento da apuração, depois de inicialmente subirem com a esperança de que um governo sólido de centro-esquerda se formasse, provavelmente com o apoio do atual premiê, o tecnocrata Mario Monti.

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Monti disse que todos os partidos têm a responsabilidade de garantir que um novo governo seja formado após as eleições inconclusivas.

O grande nome da eleição de domingo e segunda-feira na Itália acabou sendo o comediante genovês Beppe Grillo, líder do populista Movimento 5 Estrelas, que estreou numa campanha eleitoral nacional fazendo discursos cheios de xingamentos à desacreditada classe política tradicional.

Com promessas eleitorais vagas e candidatos quase desconhecidos, o ator canalizou a irritação popular contra o sistema político, visto por muitos como inútil e esclerosado.

O resultado das urnas, se confirmado, será também um tapa na cara do anódino líder centro-esquerdista Pier Luigi Bersani, que parece ter desperdiçado uma vantagem de dez pontos percentuais sobre a centro-direita que as pesquisas lhe atribuíam há menos de dois meses.

O ex-premiê Silvio Berluconi, de 76 anos, que conseguiu uma extraordinária recuperação desde dezembro, apesar dos escândalos sexuais e de corrupção associados ao seu nome, parece liderar a disputa pelo Senado, mas as projeções dizem que o Movimento 5 Estrelas privará o político conservador de formar maioria entre os senadores.

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Na Câmara, as projeções dão uma vantagem inferior a um ponto percentual para a aliança centro-esquerdista de Bersani. Isso, porém, seria suficiente para ele dominar a Casa, pois uma lei garante maioria de 54 por cento ao partido mais votado.

No Senado, o quadro é diferente. A mais recente projeção do canal público RAI mostrava o bloco de Berlusconi com 112 cadeiras, a centro-esquerda com 105, Grillo com 64 e Monti com apenas 20, após uma fracassada campanha que nunca chegou propriamente a decolar. Para formar maioria no Senado, são necessários 158 parlamentares.

Investidores

A acirrada campanha eleitoral italiana, travada principalmente em torno de temas econômicos, deixou alguns investidores temerosos com um reinício da crise da dívida que em 2011 deixou toda a zona do euro à beira de um desastre, e que levou à substituição de Berlusconi por Monti.

Os resultados preliminares indicam que mais de metade dos italianos votou nas plataformas antieuro de Berlusconi e Grillo.

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Dirigente de centro e esquerda alertaram que o iminente impasse pode tornar a Itália ingovernável, exigindo a realização de novas eleições.

No entanto, o vice-líder do Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, rejeitou discussões sobre novas eleições e disse que sua coalizão deve conquistar maioria na Câmara e que terá a responsabilidade de tentar formar um governo, apesar do impasse no Senado.

"Quem quer seja, terá a responsabilidade de fazer as primeiras propostas para o chefe de Estado", disse ele. Depois da contagem final dos votos, o presidente italiano, Giorgio Napolitano, terá a tarefa de nomear alguém para tentar formar um governo.

Letta descartou uma nova eleição, dizendo que "voltar à votação imediatamente não parece hoje ser a melhor opção a seguir".

Um governo da centro-esquerda, sozinha ou em aliança com Monti, era visto pelos investidores como a melhor garantia de medidas que combatam a corrupção e a estagnação econômica.

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Os primeiros resultados causaram pessimismo entre os investidores. O ágio entre os títulos italianos com vencimento em dez anos e os papéis alemães que balizam o mercado subiram de menos de 260 pontos-base para mais de 300, e o índice das Bolsas italianas recuou de modo a anular os ganhos dos últimos dias.

"Essas projeções sugerem que estamos nos encaminhando para uma situação ingovernável", disse Mario Secchi, candidato do movimento centrista de Monti.