Uma gravação única da voz do "chanceler de ferro" da Alemanha, Otto von Bismarck (1815-1898), realizada por um colaborador de Thomas Alva Edison, há mais de 120 anos, foi encontrada e identificada graças a um cientista berlinense.
Num momento em que o nome do primeiro chanceler alemão voltou a ser citado por alguns críticos da política europeia de Angela Merkel, a voz de seu ilustre predecessor ressurgiu do além-túmulo.
"É uma história fascinante", conta à AFP Stephan Puille, da Escola Técnica Superior de Economia de Berlim, um dos dois pesquisadores, junto com Patrick Feaster, da Universidade de Indiana (EUA).
Com duração de cerca de 1 minuto e 20 segundos, pode-se, na gravação, ouvir Bismarck recitar as palavras de uma canção americana do início do século XIX, "In good old colony times" (no bom tempo das colônias), depois as de "Gaudeamus igitur", um canto em latim célebre entre os estudantes.
Com uma voz grave, também repete os versos de uma balada do poeta romântico alemão Ludwig Uhland e dá conselhos ao seu filho.
Mas é um outro trecho da gravação que se revela mais surpreendente: o vencedor da guerra de 1870 declama, num francês com um forte sotaque alemão, as palavras de A Marselhesa.
"Não encontro explicações", sorri Stephan Puille, acrescentando: "é possível que fez isso como uma espécie de brincadeira, para zombar dos franceses, não sei bem".
Retraçar o destino desta gravação permite mergulhar bem no centro da história da técnica.
No verão de 1889, o engenheiro americano Thomas Alva Edison enviou seu colaborador, Adelbert Theo Wangemann, para apresentar seu fonógrafo na Exposição Universal de Paris.
Wangemann realizou, em seguida, uma turnê europeia, indo a seu país natal para fazer a promoção do aparelho. Por duas vezes encontrou o imperador Guilherme II, mas não gravou sua voz.
No dia 7 de outubro, foi convidado pelo chanceler Bismarck para visitar a propriedade de Friedrichsruh, perto de Hamburgo (norte). Foi lá que gravou num cilindro, contou Puille.
Nos arquivos, a viagem de Wangemann, assim como as informações sobre a ocasião, deixaram inúmeros traços (noticiário da imprensa, correspondências privadas, etc.), o que permitiu a Puille e a seu colega americano fazerem as averiguações necessárias para a identificação das gravações.
"Comparações com outros registros da mesma época permitiram também identificar os mesmos ruídos de fundo", detalhou o pesquisador.
"Em minha experiência, são bem originais", declarou ele, dizendo-se certo de ter "identificado os cilindros que se acreditava desaparecidos".
Estes últimos foram encontrados em 11 de setembro de 1957, numa caixa deixada num canto do laboratório de Edison, transformado em museu, em Nova Jersey (nordeste dos Estados Unidos). Mas até 2005, ninguém havia explorado o conteúdo.
"É o único registro existente da voz de Bismarck, o que tem, certamente, um significado histórico inestimável", resumiu Puille, ao mesmo tempo em que a Fundação Bismarck, situada na propriedade onde foi feito, comemorava uma descoberta "sensacional", em seu site na internet.
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