O governo dos Estados Unidos liberou, na noite desta quarta-feira (3), a primeira parte do pacote de US$ 400 milhões de ajuda ao México para o combate aos cartéis de drogas no país. Também na noite desta quarta, foi assassinado, em Ciudad Juarez, cidade mexicana na fronteira com os Estados Unidos, Jesus Martin Huerta, o segundo procurador federal mais importante no combate ao tráfico na cidade mexicana.
O dinheiro norte-americano é liberado num momento crítico para o México. O número de mortes relacionadas ao tráfico de drogas superou 4 mil neste ano e os assassinatos e seqüestros relacionados com esse tipo de crime estão se espalhando pelas cidades que fazem fronteira com os Estados Unidos. O embaixador dos Estados Unidos no México, Tony Garza, formalmente liberou US$ 197 milhões durante uma cerimônia de assinatura na Cidade do México, dizendo que a medida é "um dos mais significativos esforços já feitos" pelos Estados Unidos e pelo México na luta contra as drogas. Os recursos restantes serão liberados durante o próximo ano.
"A Iniciativa Mérida não versa apenas sobre dinheiro. É também sobre esforços maiores e mais próximos entre os Estados Unidos e o México para trabalhar mais eficientemente no compartilhamento de informações", disse Garza. Mas ainda permanecem muitas dúvidas sobre a direção que esta guerra contra as drogas vai tomar. A Colômbia, onde 90% da cocaína consumida nos Estados Unidos é produzida, teme ter suas ações paralisadas em razão das questões sobre direitos humanos após a eleição de Barack Obama. "Se os Estados Unidos nos privarem desses recursos, o que faremos? De onde eles virão?", perguntou Andres Pastrana, durante entrevista. O ex-presidente colombiano trabalhou com seu então colega norte-americano, Bill Clinton, para colocar em prática do Plano Colômbia, que já destinou mais de US$ 6 bilhões desde o ano 2000 em recursos para combater o tráfico de drogas e rebeldes esquerdistas em território colombiano.
Preocupações similares surgiram no México quando os democratas no Congresso norte-americano hesitaram em aprovar a iniciativa Mérida e tentaram impor restrições de direitos humanos. Mas com os recursos finalmente liberados, o México está confiante de que a administração do presidente eleito Barack Obama permanecerá comprometida com o programa e que qualquer preocupação com os direitos humanos pode ser resolvida, disse Carlos Rico, sub-secretário para assuntos norte-americanos do México.
O plano para o México - que não contempla dinheiro vivo - inclui helicópteros e aviões de vigilância, inspeção de equipamentos nos aeroportos e software para ajudar a polícia a compartilhar informações de inteligência em tempo real. Também vai ajudar nos esforços mexicanos no combate à corrupção policial, na melhoria do sistema judiciária e na proteção de testemunhas.
A maioria dos recursos, porém, será direcionada para a polícia mexicana, notoriamente corrupta, e para as mesmas forças militares cujos soldados torturaram, estupraram e mataram civis inocentes enquanto combatiam os cartéis ligados ao narcotráfico, segundo o a Comissão Nacional de Direitos Humanos do México. O próprio presidente Felipe Calderón declarou que mais de metade do Estado e da polícia local não é confiável e as fileiras federais são preenchidas predominantemente por funcionários corruptos.
O governo dos Estados Unidos confirmou o apoio a Calderón, mas Anthony Placido, chefe de inteligência da Administração de Coersão às Drogas dos Estados Unidos, reconhece o perigo de os recursos caírem em mãos erradas. "Forças da lei trabalham em qualquer lugar do mundo, e certamente no México, pode ser perigoso", disse Placido em outubro quando perguntado se a corrupção no México coloca em perigo agentes norte-americanos.
A Colômbia praticamente não impõe restrições à ajuda dos Estados Unidos contra as drogas, permitindo que os soldados e agentes norte-americanos operem de forma livre em seu território. Mas os mexicanos sempre foram ariscos à ajuda militar norte-americana.
O governo em Washington tem se mantido resoluto em seu apoio à luta contra as drogas de Calderóin, mesmo depois que altos membros do gabinete de segurança do presidente mexicano terem sido descobertos num escândalo de corrupção. Barack Obama disse que a América Central pode obter mais dos que os US$ 65 milhões da Iniciativa Mérida. E, se por um lado Obama freqüentemente faz críticas aos dados sobre direitos humanos na Colômbia, ele promete apoio total apoio à luta de Uribe contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), grupo esquerdista que sustenta sua rebelião com os lucros do tráfico de cocaína. As informações da Associated Press
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