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O conselho editorial do The Washington Post, um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, pediu na sexta-feira ao presidente do país, Joe Biden, do Partido Democrata, para que desista de concorrer à reeleição no pleito de novembro. Em um editorial duro, o jornal observou que a entrevista coletiva que Biden deu na quinta-feira na cúpula da Otan, em Washington, não conseguiu dissipar as dúvidas sobre sua capacidade de derrotar o ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, nas urnas. “A melhor maneira de evitar que Trump chegue ao Salão Oval é oferecer uma forte alternativa” a Biden, diz o editorial.
O texto reconhece realizações do governo Biden, como a redução da inflação e a tentativa de chegar a um acordo de cessar-fogo na guerra na Faixa de Gaza, mas comenta que “a melhor maneira de garantir que uma vitória republicana não anule esse progresso pode ser entregar” a candidatura “a um sucessor com maior capacidade” de vencer a eleição.
O desempenho ruim de Biden no debate de 27 de junho com Trump provocou uma crise política em Washington, com vários apelos de congressistas e membros influentes do Partido Democrata para que ele desista.
“Eu sou o indicado e não vou a lugar nenhum”, diz Biden em comício
Biden retomou sua campanha com uma visita a Michigan, um dos estados-chave nos quais o Partido Democrata decidiu concentrar seus esforços para derrotar Trump em novembro. Em um comício, Biden garantiu aos eleitores que não vai desistir da disputa, apesar das pressões que vem recebendo de correligionários para que deixe a corrida presidencial. “Eu sou o indicado [pelo Partido Democrata para concorrer à presidência] e ninguém, nem a imprensa, nem analistas políticos ou os doadores decidiram. Foram vocês, os eleitores", afirmou o presidente americano na cidade de Detroit. “Não vou a lugar nenhum”, acrescentou.
Após uma pausa na campanha devido à cúpula da Otan realizada de terça a quinta-feira em Washington, Biden voltou seu foco para a corrida presidencial. Antes do comício em Detroit, ele teve um encontro com eleitores na pequena cidade de Northville, de 6 mil habitantes. “Estou concorrendo para terminar o trabalho. Há coisas que ainda precisam ser feitas. Sei que tenho apenas 41 anos”, brincou Biden, que tem 81.
As críticas que envolvem dúvidas sobre seu vigor para liderar o país por mais quatro anos e seu fraco desempenho no debate de junho vêm marcando a campanha, e não é a primeira vez que Biden recorre ao humor em uma tentativa de minimizá-las. “Durante muito tempo, eu fui muito jovem. Fui o segundo homem mais jovem a ser eleito para o Senado. E agora estou velho demais. Mas sei que, com sorte, com a idade vem um pouco de sabedoria”, acrescentou o candidato democrata, que é apenas três anos e meio mais velho que Trump. “Eu prometo a vocês que estou bem”, enfatizou.
Biden lembrou que em 2020 se candidatou à presidência com a ideia de que era hora de recuperar a ética na política, e na sexta-feira ressaltou que Trump não pode ser considerado uma alternativa. “Este é um momento importante (...) A decência importa”, disse, além de alegar que nos três anos e meio em que está na presidência fez “muito progresso”.
De acordo com o memorando interno de sua campanha, ao qual a Agência EFE teve acesso, o chamado “caminho para 270” (em referência ao número mínimo de votos de delegados do Colégio Eleitoral de que um candidato precisa para vencer a eleição presidencial americana) é “mais claro” com vitórias nos estados de Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, que compõem o chamado “muro azul” democrata. Mas Trump continua à frente nas pesquisas e verá sua indicação como candidato pelo Partido Republicano confirmada na próxima semana na convenção da legenda em Milwaukee (Wisconsin).
Jornais, políticos e personalidades pressionam por troca na candidatura democrata
O otimismo de Biden e seus assessores de campanha contrasta com os crescentes apelos para que ele desista da candidatura, feitos tanto por políticos democratas como por figuras proeminentes em Hollywood, como o ator George Clooney, na última quarta-feira, e a atriz Ashley Judd, nesta sexta-feira. Mais de 15 congressistas democratas já pediram publicamente que Biden se retire da disputa. O mesmo apelo foi feito por dezenas de analistas políticos e personalidades da imprensa e do entretenimento nos EUA.
O jornal The New York Times, que também publicou editorial pedindo que Biden dê lugar a outro candidato, informou que os principais doadores democratas disseram ao maior comitê de ação política partidária de Biden, o Future Forward, que sua promessa de destinar US$ 90 milhões será suspensa se ele seguir em frente na disputa. Além disso, reportagem da rede de televisão NBC News que foi ao ar nesta sexta-feira destaca que vários conselheiros muito próximos de Biden acreditam que não há mais uma maneira viável para ele vencer Trump e que ele deveria se aposentar, pois “nunca será capaz de se recuperar” de seu fraco desempenho no debate e das crescentes dúvidas sobre sua capacidade de governar por mais quatro anos.
O presidente americano, no entanto, não deu nenhuma indicação de que pretende mudar de ideia e está empenhado em defender sua candidatura, por alegar que é o único que pode derrotar Trump nas urnas.