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Bagdá (Folhapress) – Mais de 5 mil iraquianos seguiram ontem para Najaf, cidade sagrada xiita onde serão enterradas as cerca de mil vítimas da tragédia de quarta-feira. Najaf fica a 160 quilômetros da capital Bagdá, onde alguém espalhou o boato de que haveria um atentado e assustou a multidão que seguia para uma mesquita. A correria matou centenas pisoteados. Muitos pularam no Rio Tigre a morreram afogados. O cheiro de morte ainda silencia a região. Ainda há corpos no Tigre. Na capital, as ruas de Sadr City foram tomadas por centenas de tendas com corpos de vítimas da tragédia. Cenas de gritos, choro e autoflagelamento eram constantes. Os xiitas culpam os sunitas pela tragédia.

Todos os 965 mortos já confirmados e os mais de 800 feridos na tragédia de quarta-feira – o maior saldo de mortos no país desde a invasão dos EUA, em março de 2003 – eram xiitas. Foi a pior tragédia do gênero desde que mais de 1,4 mil peregrinos morreram em Meca num tumulto durante o haj, em 1990.

Usando o termo "genocídio", o governo anunciou um inquérito sobre o desastre, que, embora não seja resultado direto da violência sectária, ameaça piorar as tensões entre xiitas (cerca de 60% dos iraquianos) e sunitas (20%). "Ainda que a tragédia não tenha sido provocada diretamente por rebeldes sunitas, a impressão será de que foi", afirmou o analista Joost Hiltermann, do International Crisis Group.

Na ponte Aima, onde ocorreu o desastre, um protesto contra a falta de segurança terminou em tiroteio, com um morto e sete feridos. O país parece cada vez mais acostumado com a morte. As autoridades iraquianas executaram ontem três pessoas condenadas por assassinato, na primeira sentença de morte aplicada desde a queda do regime de Saddam Hussein, em abril de 2003. Os três iraquianos foram detidos no final do ano passado após atirarem contra várias pessoas em Al Madain, 35 quilômetros a sudeste da capital.

Por outro lado, o governo prometeu indenizar as famílias das vítimas da tragédia no Rio Tigre, com o equivalente a US$ 2.055 (R$ 4.850). Segundo o presidente Jalal Talabani, que é curdo e assinou as sentenças de morte cumpridas ontem, as investigações deverão tratar o tumulto como ato terrorista. A pena de morte, suspensa em 2003, foi restabelecida em junho de 2004 pelo governo provisório iraquiano.

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