A viúva de Boris Yeltsin parou em frente a seu caixão aberto para beijar seu rosto pouco antes de o corpo do primeiro presidente eleito da Rússia ser sepultado, nesta quarta-feira, em Moscou. Naina, de 50 anos, passou alguns minutos acariciando seu rosto, amparada por suas duas filhas. O enterro foi repleto de honras de Estado, com a presença de líderes como o atual presidente Russo, Vladimir Putin, o ex-presidente dos Estados unidos Bill Clinton e o ex-presidente da Polônia Lech Walesa.
Muito abalado, Clinton permaneceu ao lado da víuva e fez carinho em suas costas. A viúva e suas duas filhas, Tatyana e Yelena, estavam vestidas de preto e com os rostos inchados de chorar. Durante a despedida, elas sentaram ao lado do caixão de Yeltsin, recebendo líderes políticos de todo o mundo. O ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov também prestou seu último tributo a Boris Yeltsin, rival que o tirou do poder.
Yeltsin deixou Gorbatchov sem cargo quando desmantelou a União Soviética, marcando anos de inimizade. Mas Gorbachev, de terno preto, beijou Naina e disse palavras de condolências ao apertar a mão de Yelena. Ele, que promoveu Yeltsin de sua base nos montes Urais para uma alto posto em Moscou, fez a homenagem mas disse também que o rival cometeu muitos erros.
- Um destino trágico - afirmou.
Yeltsin morreu de parada cardíaca na segunda-feira, aos 76 anos. Durante o velório, na catedral do Cristo Salvador - explodida por Josef Stalin e reconstruída no governo de Yeltsin como símbolo da renovação nacional - um coro cantava salvos e soldados do regimento do Kremlin guardavam o caixão. O corpo saiu do templo em carreata rumo ao cemitério.
Rompimento com o passado e caos no poder
Antes de as portas serem fechadas para o funeral oficial, pessoas que estavam no local para se despedir fizeram fila para colocar flores no caixão. Mas, em reflexo do legado Yeltsin, não há tristeza nacional. Muitos o consideram o pai da democracia russa, mas outros lembram-se do caos durante seus oito anos no poder.
Numa demonstração de seu rompimento com o passado do país, Yeltsin não foi enterrado ao lado de ex-líderes do Kremlin na Praça Vermelha, mas sim no cemitério Novodevichye, junto com atores, escritores e artistas. Muitos russos culpam Yeltsin por ter acabado com o status de superpotência do país, pela guerra desastrosa na Chechênia, pelas reformas que pulverizaram as economias dos cidadãos e por favorecimento a alguns poucos empresários.
Nos seus últimos anos no cargo, problemas cardíacos, e os relatos de que consumia muito álcool , tornaram Yeltsin uma figura distante com tendência a cometer gafes. Antes, ele foi considerado herói no mundo inteiro ao assumir o governo e em 1991, quando subiu em um tanque para dirigir a multidão contra líderes golpistas que queriam acabar com as reformas.
Meses depois, ele foi preponderante no acordo para dividir a União Soviética em Estados independentes. Seus simpatizantes dizem que ele será julgado na história por estes feitos.
Outra homenagem a Yeltsin também está sendo preparada. Admiradores disseram nesta quarta-feira que querem honrar o primeiro presidente da Rússia trocando de Lenin para Yeltsin o nome da principal rua de sua cidade natal, Yekaterinburg.
Deixe sua opinião