A blogueira e ativista cubana Yoani Sánchez cobrou do governo brasileiro um "posicionamento mais enérgico" e "duro" ao abordar o tema de direitos humanos com o governo Raúl Castro.
"Tem faltado dureza ou franqueza na hora de falar do tema de direitos humanos na ilha. Tem havido silêncios demais. Eu recomendaria um posicionamento mais energético. Os povos não esquecem", disse ela, que participou na manhã de hoje em São Paulo de conversa com jornalistas e leitores do jornal "O Estado de S. Paulo".
No Brasil desde segunda-feira, em sua primeira viagem internacional em nove anos, Sánchez se transformou num tema de embates entre manifestantes e parlamentares pró e contra o governo comunista de Cuba, provocando protestos e situações de tensão por onde passou.
"É a multiplicação por dez do que eu esperava", disse a ela sobre a repercussão da visita à Bahia e a Brasília.Sobre os protestos, a blogueira disse ter se surpreendido com "a virulência e a repetição" das manifestações e criticou os que impediram a exibição do filme "Conexão Cuba- Honduras", do cineasta baiano Dado Galvão, na segunda-feira em Feira de Santana (BA).
"Impedir as pessoas de falar não é democracia nem pluralidade. É fanatismo", disse.
Chávez
Para ela, o governo de Cuba tem feito gestos de aproximação com administração americana, com quem não tem relações diplomáticas regulares há cinco décadas, por temor com a possibilidade de perder a aliança energética e financeira com a Venezuela do convalescente Hugo Chávez."Por trás dessa predisposição [de diálogo com os EUA] está a preocupação com uma possível saída de cena de Hugo Chávez", disse ela.
Sánchez diz ter uma relação contraditória com a aliança Havana-Caracas. Se por um lado, a venda de petróleo subsidiado à ilha permitiu o fim dos cortes elétricos no país, por outro, ela diz, prolongou um "sistema que poderia estar com os dias contados".