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O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, durante a leitura do seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na quarta-feira (25)
O ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, durante a leitura do seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na quarta-feira (25)| Foto: EFE/EPA/Olga Fedorova

Na última quarta-feira (25), numa atitude que no mundo diplomático é considerada uma mensagem de protesto, os delegados dos Estados Unidos deixaram o plenário da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, durante o discurso do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil.

No seu pronunciamento, o chanceler apresentou o seu repertório de sempre: acusou os Estados Unidos e a oposição a Nicolás Maduro de planejar um golpe de Estado contra o ditador; chamou a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza contra o grupo terrorista Hamas como “o maior crime de extermínio e genocídio desde o perpetrado por Hitler na Segunda Guerra Mundial”; disse que a Ucrânia, inimiga da Rússia (aliada da Venezuela), é “nazista”; e classificou os presidentes da Argentina, Javier Milei, e do Equador, Daniel Noboa, como “lacaios”.

Em janeiro de 2023, quando Gil substituiu Carlos Faria (muito próximo da Rússia), o novo ministro das Relações Exteriores da Venezuela chegou a ser saudado por fontes do chavismo como “alguém que dialoga e sem estridência ideológica”.

Porém, não demorou para o chanceler mostrar que tal avaliação estava completamente errada – nas suas redes sociais, declarações e em comunicados, Gil sempre se manifesta com extrema agressividade, defendendo de forma fanática as posições do chavismo.

Ele chamou o alto representante para Política Externa da União Europeia (UE), Josep Borrell, de “sem-vergonha” depois que os países do bloco não reconheceram a “vitória” de Maduro na eleição de 28 de julho.

Após a expulsão da Venezuela de uma equipe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, anunciada em fevereiro (medida que depois foi revertida), Gil acusou os funcionários da ONU de agirem “como uma espécie de escritório de advocacia privado para conspiradores golpistas e grupos terroristas”.

Milei é um dos alvos preferenciais do chanceler: antes da ofensa do discurso de quarta-feira, ele havia chamado o presidente libertário argentino de “fascista”, “nazista” e “fantoche” dos Estados Unidos e o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, de “cara de pau”.

Quando o presidente do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, também criticou a vitória fraudulenta de Maduro na eleição presidencial de julho, Gil disse que ele era um “pinochetista e golpista”.

Yván Eduardo Gil Pinto tem 52 anos e é adepto do chavismo desde a época do ditador original, Hugo Chávez (que governou de 1999 até sua morte, em 2013).

Formado em agronomia pela Universidade Central da Venezuela (UCV), exerceu cargos ligados à produção agrícola no governo venezuelano, até chegar ao ápice como ministro da Agricultura, cargo que exerceu em dois períodos entre 2013 e 2016.

Mesmo sem ser da área diplomática, em 2017 foi nomeado vice-ministro para a Europa do Ministério das Relações Exteriores e em 2021, encarregado de negócios junto à UE, antes de chegar ao posto de chanceler no ano passado.

As mentiras e grosserias de Gil, de tão absurdas, acabam produzindo gafes memoráveis. Em abril deste ano, ele disse que o Trem de Aragua, o maior grupo criminoso da Venezuela, com ramificações em outros países da América Latina e nos Estados Unidos, não existia.

“Provamos que o Trem de Aragua é uma ficção criada pela mídia internacional para tentar criar um rótulo. Como fizeram com o suposto Cartel de Los Soles. Como foi derrotado o discurso do Cartel de Los Soles, ficou demonstrado que se trata de uma organização que não existe, que nunca existiu, agora inventam um chamado Trem de Aragua, organização que existiu na Venezuela, de forma localizada, e que mais tarde tentaram colocar como marca. Vimos, por exemplo, como aparecem ridiculamente vídeos até de pessoas dizendo, ‘Somos do Trem de Aragua’, com sotaque peruano, com sotaque chileno”, disse, em declarações publicadas por sites da Colômbia.

A declaração causou espanto porque, além da ampla gama de registros e fatos que comprovam a existência e forte atuação do grupo criminoso, em setembro do ano passado o próprio governo da Venezuela realizou uma grande operação para retirar do Trem de Aragua o controle do Centro Penitenciário de Tocorón, um dos maiores do país.

Por fim, em agosto, Gil reconheceu a existência da gangue, ainda que tenha afirmado que ela não atuava mais. Na ocasião, aproveitou para apontar, sem provas, uma relação do grupo com a oposição da Venezuela.

“As evidências nos levaram a acreditar que o Tren del Llano [outra gangue venezuelana] e o extinto Trem de Aragua estavam realmente sendo contratados pela oposição para iniciar um golpe de Estado”, disse Gil, em uma reunião com representantes diplomáticos credenciados no país, de acordo com informações do jornal El Nacional.

Embora a dança das cadeiras costume ser intensa nos altos cargos do chavismo, Gil deve seguir por um bom tempo defendendo a turma de Maduro com suas mentiras e gafes, a julgar pela virulência com que ataca desafetos da ditadura.

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