A Costa Rica busca nesta terça-feira (21) ajuda diplomática para um acordo que ponha fim à crise política em Honduras com a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya, que ameaça voltar ao país e liderar sua facção numa guerra civil.
Zelaya, exilado na Nicarágua desde o golpe de 28 de junho, prometeu voltar a Honduras "a partir de quarta-feira", apesar das ameaças do presidente interino, Roberto Micheletti, de prendê-lo por violações à Constituição - como ao tentar promover uma consulta popular para permitir sua reeleição.
A comunidade internacional pressiona Micheletti a entregar o poder, mas teme que a volta precipitada de Zelaya provoque um banho de sangue no país. Em 5 de julho, um homem morreu em confrontos ocorridos quando o Exército impediu o pouso de um avião que transportava Zelaya.
Uma fonte do governo costa-riquenho disse à Reuters, sob anonimato, que Arias "manteve conversas de alto nível, em nível regional, de Washington a Santiago do Chile, e está claro que estão buscando exercer pressão sobre Micheletti".
Zelaya insistiu que voltará a Honduras enquanto ainda transcorre o prazo de 72 horas pedido pelo mediador Arias para encontrar uma saída para a crise, a pior das últimas duas décadas na América Central.
Zelaya, um pecuarista que despertou a antipatia de empresários e políticos por sua aproximação com o venezuelano Hugo Chávez, disse que Honduras já vive uma guerra civil, apesar do caráter pacífico da maioria dos protestos até agora.
"Qualquer um que esteja em Honduras pode ver que já começou esse enfrentamento, essa guerra civil", disse Zelaya.
Micheletti, com apoio da Corte Suprema e do Congresso, disse que poderia antecipar as eleições de novembro, mas insistiu na sua recusa em restituir Zelaya.
Ampliando o isolamento internacional ao novo governo, os Estados Unidos ameaçaram cortar a assistência financeira a Honduras. A União Europeia (UE), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Banco Mundial já suspenderam a entrega de doações e empréstimos, e a Assembleia Geral da ONU manifestou-se pela volta de Zelaya ao poder.
O chanceler da Costa Rica, Bruno Stagno, viajou na segunda-feira à Cidade do Panamá para se reunir com uma delegação enviada por Micheletti.
Uma fonte do governo costa-riquenho disse que Arias cancelou sua agenda de governo desde segunda-feira para se dedicar integralmente à mediação da crise hondurenha.
Em Honduras, alguns partidários de Zelaya organizam protestos e esperam a volta dele. "Nós esperamos que a pressão internacional tenha seus efeitos para conseguir a restituição do presidente da república, mas estamos observando que o governo de fato está se agarrando a tudo, não quer ceder, e isso nos preocupa", disse Dagoberto Suazo, um dos líderes dos protestos.
Diplomacia
A Embaixada da Venezuela em Honduras informou nesta terça-feira (21) que recebeu um comunicado do governo interino hondurenho, no qual é ordenado que os diplomatas venezuelanos abandonem o país em 72 horas.
"Recebemos faz meia hora uma comunicação da chancelaria solicitando a retirada do pessoal diplomático, administrativo, técnico e de serviços", disse em entrevista por telefone à Associated Press o encarregado de negócios da embaixada venezuelana em Honduras, Ariel Vargas.
Honduras também irá retirar seu pessoal diplomático de Caracas, segundo o documento.
Vargas disse não estar surpreso com a notícia que "já nos haviam anunciado no sábado".
"Eu comuniquei a situação a Caracas e espero ter uma notícia de lá nas próximas horas", acrescentou.
Honduras já havia advertido o governo da Venezuela a parar de se envolver nos assuntos internos do país, sob pena de expulsão dos diplomatas.
No comunicado a chancelaria do governo interino pede a retirada dos diplomatas "considerando as ameaças ao uso da força, a intromissão nos assuntos exclusivos, assim como a falta de respeito à soberania e à integridade territorial do nosso país", se lê na nota entregue à AP pela Embaixada da Venezuela.
Passado o prazo de 72 horas, adverte o texto, "não será reconhecido o estatuto privilegiado" dos diplomatas.
"Existem países que dizem não reconhecer o governo de Honduras, mas que mantém seus representantes em Tegucigalpa e alguns deles estão intervindo de forma aberta e ameaçadora", disse no sábado o chanceler interino de Honduras, Carlos López. O governo interino de Honduras foi instalado em 28 de junho, quando um golpe militar derrubou o presidente Manuel Zelaya e empossou no cargo o então chefe do Congresso, Roberto Micheletti.
Lobistas em Washington
Os militares, políticos e empresários que depuseram o presidente hondurenho Zelaya estão travando sua batalha pelo país na arena política norte-americana, com uma campanha feita por lobistas que os retrata como um reduto contra a "ditadura" e o "comunismo". Apelando aos partidários do livre comércio, eles esperam demover a administração Obama de sua ameaça de impor sanções ao país, cujas linhas de montagem voltadas principalmente para a exportação são dominadas por empresas e investidores norte-americanos.
"Eu imagino que haverá alguma reação da parte deles" às sanções comerciais, disse na segunda-feira Amilcar Bulnes, presidente do Conselho Hondurenho de Negócios Privados.
O governo de facto liderado pelo presidente interino Roberto Micheletti esforçou-se para reunir um grupo de lobistas que fosse diverso e representativo. O grupo enviado para Washington na segunda-feira incluía um líder trabalhista cristão democrata e um professor universitário de Direito que é de um partido opositor.
Os adversários de Zelaya esperam que o presidente Barack Obama não tenha tempo nem energia para o assunto já que tem de lidar com problemas como a nova reforma do sistema de saúde dos Estados Unidos e com a crise econômica mundial.
O grupo de lobistas foi enviado aos Estados Unidos no momento em que Washington aumenta sua pressão sobre o governo de Micheletti ao advertir que Honduras pode enfrentar fortes sanções econômicas se Zelaya não voltar à presidência do país. As informações são da Associated Press.