O presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, depõe nesta terça-feira (10) na primeira das duas audiências marcadas no Congresso dos EUA para explicar o uso indevido de dados de usuários da rede social.
O Facebook admitiu que uma consultoria de dados vinculada à campanha presidencial de Donald Trump, a Cambridge Analytica, desviou informações de até 87 milhões de pessoas, o que levou os legisladores a pedir a sua presença no Congresso para explicações. O Facebook também revelou que sua ferramenta de busca permitiu que “hackers maliciosos” raspassem os perfis de quase todos os 2,2 bilhões de usuários do Facebook.
Em relatório de defesa entregue ao Congresso nesta segunda-feira (9), Zuckerberg pediu desculpas várias vezes e reconheceu que a empresa “não teve uma visão ampla da sua responsabilidade”, e que isso tinha sido principalmente um grande erro dele. “Foi um erro meu, e me desculpe. Eu comecei o Facebook, eu o controlei e sou responsável pelo que acontece aqui”.
Especialistas em comunicação e liderança disseram que a abordagem de Zuckerberg foi correta. Mas, se nada mudar, a insistência em pedir desculpas terá um resultado negativo.
A indignação do consumidor deu origem à campanha #DeleteFacebook e o preço das ações da empresa despencaram
“Quando um pedido de desculpas continua sendo emitido repetidamente e a transgressão continua sendo repetida, o pedido de desculpas acaba tendo menos significado e menos impacto”, disse Gabrielle Adams, professora da Escola de Liderança e Políticas Públicas Frank Batten, da Universidade da Virgínia. “Quando mais e mais [Facebook] continua fazendo coisas que infringem a privacidade do usuário, em algum momento as desculpas se tornam palavras vazias”.
Nos últimos dez anos, Zuckerberg emitiu uma série de desculpas, muitas delas relacionadas a problemas com a privacidade de dados dos usuários. Em 2003, depois de usuários terem problemas com o Facemash, uma rede social que se tornou viral em Harvard e foi a antecessora do Facebook, Zuckerberg disse que “não é isso que eu queria que as coisas acontecessem e peço desculpas por qualquer dano causado por isso”. Depois de lançar o Beacon em 2007, compartilhando dados com anunciantes em sites e aplicativos externos, ele disse que “simplesmente fizemos um trabalho ruim com este lançamento, e peço desculpas por isso. As pessoas precisam poder escolher explicitamente o que compartilhar”.
Quando os repórteres identificaram uma brecha de privacidade em 2010, Zuckerberg prometeu “adicionar controles de privacidade que são muito mais simples de usar”.
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E tudo isso precedeu a recente rodada de explicações e promessas depois que surgiram dúvidas sobre o seu papel na eleição de 2016 e depois que surgiram os detalhes iniciais sobre a consultoria política Cambridge Analytica colhendo dados de usuários sem permissão.
“Vamos aprender com essa experiência para proteger ainda mais nossa plataforma e tornar nossa comunidade mais segura para todos daqui para frente”, disse Zuckerberg em março.
#DeleteFacebook
Segundo assessores, Zuckerberg se preparou cuidadosamente para as audiências no Congresso. Ele viajou para Washington, D.C., no fim de semana e, ao chegar, se reuniu novamente com conselheiros para afinar seu discurso.
Um desses assessores que o estariam ajudando seria Reginald Brown, ex-assistente especial do presidente George W. Bush, do escritório de advocacia WilmerHale, em Washington.
Zuckerberg está treinando para as audiências como um candidato de eleições, participando de dramatizações; recebendo orientação sobre como não parecer defensivo; e antecipando questões sobre privacidade de dados, desinformação, sua capacidade de impedir a interferência estrangeira nas eleições e se o modelo de negócios da empresa causa danos.
O executivo-chefe é otimista e quer que a rede social não seja vista apenas como uma ferramenta onipresente de comunicação – tão necessária quanto a própria Internet – mas como um produto que as pessoas gostem. O mesmo idealismo que o levou a criar sua rede social sem precedentes também o levou a pontos cegos, disseram pessoas próximas ao executivo. Mas agora Zuckerberg está começando a entender que salvar o Facebook exigirá que ele evolua pessoalmente, disse o investidor do Facebook, Reid Hoffman.
O otimismo de Zuckerberg se choca com o desapontamento público generalizado e a crescente pressão por mais regulamentação dos legisladores dos Estados Unidos e da Europa.
A indignação do consumidor deu origem a uma campanha #DeleteFacebook, e o preço das ações da empresa despencaram. Um estudo recente do American Press Institute e do Centro de Pesquisas de Assuntos Públicos da Associated Press descobriu que apenas 12% das pessoas confiavam no Facebook como fonte de notícias. Outra pesquisa feita pela Axios e pela SurveyMonkey apontou que a favorabilidade do Facebook caiu 28 pontos nos últimos cinco meses - mais do que o dobro dos rivais Amazon e Google.