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Editorial

A blindagem da economia

Jóia da coroa do atual governo, o desempenho econômico do país mereceu ontem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais um veemente discurso. Citando por várias vezes a crise política, ele garantiu que não promoverá nenhuma mudança na política conduzida pelo ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Ou seja: o juro alto continuará sendo utilizado como terapia prioritária para a manutenção da estabilidade monetária e para consolidar as bases do crescimento sustentável.

"Tem crise, tem. Mas vamos tirar proveito dessa crise para que o país saia dela mais fortalecido. Pela primeira vez, existe a perspectiva de o país crescer de forma sustentada com inflação baixa. E não jogarei fora essa oportunidade por nada neste mundo. Mudar a economia agora seria prejudicar os mais pobres" – disse taxativamente o presidente, no discurso que pronunciou no Mato Grosso ao inaugurar uma linha de transmissão de energia.

Dois objetivos certamente inspiraram Lula a repetir a assertiva. O primeiro deles, de ordem prevalentemente técnica, foi – para usar a palavra tão em voga – blindar a economia dos efeitos do descrédito a que seriam submetidos os seus principais condutores, o ministro Palocci, alvo das maledicências que contra ele começaram a aparecer no vendaval das denúncias, e também o presidente do BC, réu processo que contra ele corre sob acusação de lavagem de dinheiro e sonegação de impostos. O presidente sabe da importância de proteger seus auxiliares para manter o projeto de estabilização. Abandoná-los neste momento seria jogar por terra a normalidade e a segurança com que os agentes do mercado – nacionais e estrangeiros – navegam em meio às turbulências da crise nacional e, conseqüentemente, comprometer os próprios fundamentos em que se assenta a política econômica. "Temos de ter responsabilidade e não brincar com coisas sérias, pois toda vez que se brincou com a economia neste país, por causa da proximidade eleitoral, o resultado negativo ficou para a parte pobre da população", afirmou.

O segundo motivo, de ordem mais política do que técnica, é de demonstrar à opinião pública de que o governo não está de joelhos frente à crise. Não é por causa dela – ou para conquistar a boa vontade de alguns setores críticos da gestão econômica – que a administração federal mudará de curso. O governo segue igual enquanto a caravana dos escândalos morais que enxovalham a atividade política passa. Por isso, apesar de também não lhe agradarem taxas tão altas, disse Lula, os juros não baixam ao sabor do "carnaval e muito barulho" que se está fazendo. "Eu quero dizer que não jogarei fora esta oportunidade por nada neste mundo", afirmou o presidente, referindo-se à possibilidade de manter o país em uma rota de desenvolvimento sustentável.

Pode-se inferir da postura do presidente que seus cuidados foram redobrados pela própria crise. Ou, em sentido contrário, que a crise, sem dúvida, é agora o fator mais responsável para que o país tenha de suportar, sabe-se lá por mais quanto tempo, o juro alto – principal causa do retardo do desenvolvimento pelo qual o presidente e os demais 180 milhões de brasileiros mais anseiam.

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