Especialmente meritória foi a participação da comunidade, que, em vez de esperar que todas as soluções venham do Estado, compreendeu seu papel no combate à violência
Reduzir a taxa de homicídios, a violência nas escolas e a sensação de insegurança na Paraná foram as metas da campanha "Paz sem voz é medo"/"Paz tem voz", do GRPCom. E, após 351 dias, os avanços são inegáveis, fruto não só de ações do grupo, mas principalmente da mobilização popular e da resposta do governo do estado. No entanto, inegável também é a constatação de que ainda resta um longo caminho a percorrer para que os objetivos propostos sejam efetivamente alcançados.
Nesse quase um ano de campanha, a taxa de homicídios em Curitiba, onde as ações tiveram mais força, caiu 10%, na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o mesmo período do ano passado. A taxa de alunos que relataram não ter problemas de violência em sua escola e entorno subiu, na capital, de 8% em 2011 para 18% neste ano. Já a pesquisa de percepção sobre a sensação de segurança, feita pelo instituto Paraná Pesquisas, não mostrou recuo nos temores dos paranaenses, mas também não trouxe uma piora do cenário.
Especialmente meritória é a participação da comunidade, que, em vez de esperar que todas as soluções venham do Estado, compreendeu seu papel no combate à violência. Destaque-se a criação ou reativação de 54 conselhos de segurança desde o começo da campanha, vistos como um dos equipamentos necessários para melhorar a segurança. Na esfera governamental, também foram registrados avanços: uma ferramenta fundamental é o boletim eletrônico da Secretaria de Estado da Segurança Pública, que começou a ser feito no Paraná em 1.º de setembro de 2011 e registra, atualmente, 9 mil casos de furtos, roubos e extravios de documentos. Com dez meses passados, porém, o serviço ainda não permite o registro de outros tipos de ocorrências. A instalação de Unidades Paraná Seguro (UPSs), que têm a proposta de unir policiamento com ações voltadas à melhoria das condições de vida da população, aponta para um cenário mais promissor, mas, por enquanto, a sensação que se tem é de que o ritmo das ações está abaixo do desejado.
Além das reportagens, a contribuição do GRPCom para mudar o cenário de violência no Paraná veio na forma do Mapa do Crime, um espaço para que os paranaenses registrem crimes no site da Gazeta do Povo; e, especialmente, o projeto CIC, por meio do qual duas vilas da Cidade Industrial de Curitiba foram "adotadas" e, a partir de conversas entre jornalistas e lideranças da comunidade, buscaram-se soluções para os problemas da região. O Instituto GRPCom também promoveu palestras e treinamentos em várias escolas, seguindo o mesmo espírito da campanha.
A taxa de assassinatos, embora tenha recuado, continua muito acima da considerada tolerável no primeiro trimestre deste ano, Curitiba registrou 38,8 casos de homicídios dolosos para cada grupo de 100 mil habitantes, quando a Organização Mundial de Saúde considera "estado de violência epidêmica" qualquer valor que ultrapasse a proporção de 10 casos por 100 mil habitantes. Isso demonstra o quão difícil e demorado é vencer o problema da violência. São Paulo, por exemplo, trabalhou duro por dez anos para fechar 2011 com uma taxa de aproximadamente 10 homicídios a cada 100 mil habitantes a menor desde 1999, quando a série histórica começou a ser feita. E investiu pesado para isso: só no ano passado, a Secretaria de Segurança Pública paulista teve R$ 2 bilhões para investimentos. No mesmo ano, o Paraná teve R$ 80,47 milhões para investimentos. Para este ano, o valor estimado para ser gasto com segurança pública no Paraná é de R$ 500 milhões, mas, por enquanto, esse total não está assegurado.
Além de tempo e investimentos públicos, construir um Paraná mais seguro é algo que exige mobilização popular, o que a campanha do GRPCom mostrou também ser uma tarefa difícil, mas não impossível. E é por isso que o "Paz tem voz", mesmo que em formato diferente, continuará existindo, denunciando os problemas de segurança que precisam ser mostrados, mas também enaltecendo as iniciativas que ajudem a fazer do Paraná, dia após dia, um estado mais seguro. A campanha acaba, mas as ações em favor da paz prosseguem.