As chuvas que, junto com ventos frios, estão castigando os paranaenses nesta transição do inverno para a primavera, são incômodas e causam problemas. Mas elas são importantes porque molham o solo, assegurando condições para uma boa safra de verão no ciclo 2005-06. A nota dissonante é a persistência de condições negativas – sobretudo preço e demanda – que reduzem o ânimo dos produtores rurais e apontam para retração da renda agrícola após dois anos excepcionais.

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Não obstante, sob o aspecto técnico as perspectivas são favoráveis para a repetição de quase uma supersafra, superior a 110 milhões de toneladas, como nos primeiros anos da década. Nesse período o agronegócio brasileiro foi beneficiado por um conjunto favorável: incorporação de produtividade gerada pelas pesquisas coordenadas nacionalmente pela Embrapa, programas de financiamento de máquinas e de crédito rural estimulantes, câmbio flutuante e demanda mundial aquecida para "commodities". Entre 2003 e 2004 tais condições excepcionais permitiram acumulação de renda rural, geração de saldos de exportação e otimismo generalizado no campo.

Porém, já na safra 2004/05 o panorama começou a se alterar, com a seca prolongada no Centro-Sul (quebra de até 15% na safra paranaense), recuo de cotações e perda cambial ante um real valorizado artificialmente pela política monetária. Nesta semana um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos agravou o quadro, ao projetar encolhimento da demanda concomitante com elevação da oferta nas principais culturas. Como resultado, o preço da soja cotada em bolsa de mercadorias retrocedeu ao patamar de fevereiro, afetando principalmente o Brasil.

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A avaliação da agência norte-americana é que a safra brasileira, inicialmente prevista em 62 milhões de toneladas, não passe de 60 milhões, o que recuaria nossa participação no comércio internacional do produto de 34,4% para 31,7%. Um analista interno alertou que o produtor brasileiro precisa se convencer de que os preços generosos do passado ficaram para trás: a partir de agora margens apertadas vão exigir maiores cuidados na condução das lavouras, gestão do negócio e descoberta de oportunidades.

Isso explica porque entidades de produtores e sua representação política têm redobrado esforços pela renegociação das dívidas de colheitas anteriores, lutado por insumos que dêem maior margem como a soja transgênica e, no geral, adotando posição defensiva na aquisição de máquinas e tecnologia de plantio. O problema atinge até a pecuária que, embora ostente exportação crescente, enfrenta o mesmo quadro – segundo informou a confederação do setor.

Empenhadas em apoiar a agricultura familiar, até aqui as autoridades não demonstram ter atentado para a conjuntura. Mas precisam ter presente que é a agricultura comercial de escala que gera volumes elevados de produção, garante abastecimento alimentar interno e sustenta superávits externos vitais para a economia nacional.