O contrabando e o tráfico de drogas nos mais de 16 mil quilômetros de fronteiras brasileiras vêm assolando a economia do país, provocando desemprego e operando uma devassa em impostos que poderiam, de outra forma, ser revertidos na melhoria de áreas fundamentais como saúde, educação e segurança. Um dos temas que ainda não recebeu o devido destaque é a arregimentação, por parte dos contrabandistas, de jovens para práticas criminosas.
Os números são alarmantes. Um estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf) mostra que nas chamadas "cidades gêmeas", municípios brasileiros e de países vizinhos que dividem a linha de fronteira, o número de homicídios supera a taxa nacional. Com base em dados do Ministério da Saúde, o Idesf verificou que a média de homicídios por 100 mil habitantes nas cidades gêmeas é de 36,93, enquanto a média nacional é de 29,05.
Além disso, o porcentual médio de pessoas em idade escolar nas cidades gêmeas brasileiras (33,38%) é superior à do restante do Brasil (29,51%). Com isso, essas cidades se tornam locais propícios para o recrutamento de jovens pelo crime, levando futuros talentos às práticas criminosas.
A atividade é procurada preferencialmente por pessoas de 15 a 25 anos e transforma esses jovens num verdadeiro exército que tem como atrativo a lucratividade do contrabando e possui uma margem similar à do tráfico de alguns tipos de entorpecentes. O contrabando também se torna uma porta de entrada para outros crimes como lavagem de dinheiro, tráfico de pessoas e armas, além de trabalho escravo. Um bom exemplo é o caso do contrabando de cigarros. Desde 2011, apesar do reforço da segurança nas fronteiras, os contrabandistas paraguaios inundam o mercado brasileiro com produtos que custam menos da metade do preço mínimo exigido pela legislação e utilizam nossos jovens como principal mão de obra para operar o contrabando.
O estudo ainda elaborou um ranking das seis cidades mais violentas da fronteira: Coronel Sapucaia (MS, fronteira com o Paraguai), apresenta o maior índice entre as cidades gêmeas do Brasil: 112,25 mortes por 100 mil habitantes, seguido por Paranhos (MS), Guaíra (PR), Mundo Novo (MS), Foz do Iguaçu (PR) e Ponta Porã (MS). Cidades grandes como São Paulo e Rio de Janeiro têm índices de 15,36 e 18,87 mortes por 100 mil habitantes, respectivamente.
É urgente que as autoridades de todos os âmbitos federal, estadual e municipal estejam interligadas não apenas em ações de inteligência para combater o contrabando, mas também para trazer a essas cidades oportunidades que levem os jovens a outros caminhos com mais futuro para o país.
O Brasil não pode ver de braços cruzados o contrabando arrebatando os nossos melhores talentos para o submundo do crime. É nosso dever não apenas combater, mas prevenir com ações concretas e que levem em consideração o crescimento e desenvolvimento do nosso país. Um basta já!
Luciano Stremel Barros é presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf).
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