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Pelo pusilânime e velhaco silêncio de todos os candidatos, na mudez tática dos que falam para nada dizer, evitar compromissos e não desagradar ao bando disperso de eleitores, tanto faz como tanto fez que seja eleito para presidente da Câmara dos Deputados o candidato apoiado pelo governo ou um dos que se declaram oposicionistas pois, no frigir dos ovos, a grande derrotada será a instituição.

É espantosa a insensibilidade moral, o desprezo ético que domina a campanha, especialmente no vale-tudo da reta final. Os pretendentes ao segundo na linha sucessória da Presidência da República fingem ignorar a crise que corrói a respeitabilidade do Congresso, driblam nas declarações comprometedoras sobre o destino das CPIs, fogem de conversa sobre a punição dos emporcalhados pela roubalheira do mensalão e os financiamentos milionários do caixa 2 e se dispõem a fechar qualquer acordo que acene com votos para o cargo que a prudência aconselharia a evitar em plena turbulência sem saída à vista.

Na verdade, não há alternativa: a falência dos partidos – fraudulenta em alguns casos, como do PT e seus aliados na orgia da corrupção – liberou candidatos e blocos avulsos de compromissos com programas, idéias, propostas ou com a honrada coerência. O maior partido do Congresso, na sua informalidade vitoriosa, é o baixo clero, com todas as condições para decidir a parada.

Na caçada aos esquivos, a marota esperteza é o ferrete da superficialidade intencional na voz impostada nas entrevistas de disputantes e da sua corte, acolhidas pela generosidade da mídia.

O calvário em que se imola o solene e pomposo ex-presidente da Câmara, deputado Michel Temer (SP), é emblemático. Presidente do PMDB, invadiu a arena na razoável esperança de merecer o apoio da legenda e está sendo arrastado ao deboche pelo seu ilustre companheiro de partido, senador Renan Calheiros (AL), presidente do Senado. No impulso da reação, Temer classificou de reles o comportamento do desafeto doméstico.

Tem e não tem razão: se teimar no jogo do fingimento não escapará das picadas da traição. Mas, se escancarar as butucas e pousar na realidade não terá a menor dificuldade em reconhecer que o PMDB não existe. Expira depois de longa e patusca agonia, quando exercitou a habilidade de ser metade governo, faturando ministérios, autarquias e outras mamatas; metade oposição para não ser coisa nenhuma.

O espetáculo circense da briga de interesses pelo comando da Câmara confirma a decomposição dos partidos. Em estágios diferentes de apodrecimento. O PFL safa-se como o único entre os grandes sem fraturas graves na oposição ao governo. Entre as siglas médias e pequenas podem ser citados vários exemplos.

O Partido dos Trabalhadores ocupa o canto do picadeiro no show de desnudamento vexaminoso da sua história. Nada poupou a bandeira do PT no desmanche do patrimônio construído em duas décadas de lutas em que sustentou a pureza das suas origens no movimento sindical. Erros da arrogância, do centralismo autoritário e obtuso e o fracasso do governo do presidente Lula, da cambalhota econômica com a submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) ao deslumbramento com os êxitos estatísticos da guinada neoliberal deram no que era inevitável. O PT agoniza, com as veias abertas. O expurgo dos radicais que empacaram na cobrança da coerência, iniciou o estouro, seguido da advertência com a fundação do PSol da senadora Heloísa Helena (AL) acompanhada por deputados e intelectuais. O que parecia uma aventura, ganha consistência ao abrir os braços para acolher os que abandonam a legenda, com o lenço no nariz, na fuga dos que levam na bagagem a tradição e os compromissos históricos renegados pelo oportunismo: o jurista Hélio Bicudo, o candidato à presidência do PT, Plínio de Arruda Sampaio, os deputados federais Chico Alencar (RJ), Orlando Fantazzini (SP), Ivan Valente (SP) e Maninha (DF), que já se desligaram do partido.

De degrau em degrau, a crise moral rola a escada da desmoralização do Congresso.

Como se fosse preciso chegar ao fundo da podridão para iniciar a faxina do monturo.

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