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No dia 15 deste mês, a Assembléia Nacional francesa autorizou o estado de emergência por mais 90 dias. Foram 346 votos a favor da medida e 148 contra. Eis que um país considerado amplamente democrático e, repentinamente, utiliza-se de uma medida de exceção. É uma restrição ao direito de ir-e-vir, de "aglomeração", toque de recolher, entre outros. Quem diria! Esta medida foi pensada como um dos instrumentos para conter a desordem social evidenciada nas manifestações brutais, "causada pelo desemprego, pela discriminação étnica" e, na minha opinião, discriminação também religiosa. Nem De Gaulle apelou para esta medida na gravíssima situação em que o país esteve com as greves e protestos estudantis de 1968. Até agora, segundo o primeiro-ministro Villepin, há 600 manifestantes presos. Nos protestos foram queimados mais de 8.000 veículos. Parece que o ideal francês de igualdade, liberdade e fraternidade foi arranhado.

Porém a questão não é tão simples assim. Os protestos são em sua maioria feitos por pessoas que são filhos de imigrantes, mas nascidos na França. Esta é a questão! São filhos da terra, mas expulsos dos direitos que ela oferece; não são considerados franceses legítimos. São marginalizados e "empurrados para a periferia", cujo nome mais apropriado é exclusão social. A França colonizou muitos países, alguns africanos de cor branca ou negra; não importa. Ocorre que os filhos dessas colônias sentem-se no direito de estar sob as asas de seus colonizadores porque foram explorados por ela. A História é implacável com a França nesse sentido; é só lembrar da Argélia, por exemplo.

Não se pode resolver problemas dessa natureza com medidas de exceção. É necessário reconhecer que à medida que alguém é explorado, ele passa a fazer parte da história do explorador. A filosofia social explica isto. É necessário que o governo e o povo francês repensem seu comportamento diante desses "imigrantes"; o governo deve apresentar um plano de criação de empregos para essa gente, pois esta é uma questão crônica que já se faz presente em duas gerações: a do imigrante e seus descendentes nascidos na França. O trabalho é uma forma de inclusão social e de reconhecimento das pessoas como portadoras de dignidade. O reconhecimento dessa dignidade já resolve uma boa parte do problema. O trabalho é um vínculo de harmonia entre as pessoas. Para isto é imprescindível que muitos francesas deixem a soberba de lado e aprendam a conviver com a diferença; caso contrário, a própria União Européia corre o risco de sofrer uma convulsão.

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