A grave crise que se abate sobre o PT é resultado dos seus próprios erros no passado recente.

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O PT nasceu defendendo como bandeira a autonomia dos movimentos sociais e sindical frente ao partidos e aos governos. Foram anos de extensos debates dentro do partido com a presença marcante dos militantes dos movimentos sociais, sindical e das comunidades eclesiais de base filiados ao PT que contribuíram com essa formulação.

À medida que o PT começou a ganhar as eleições para os executivos municipais e estaduais, a postura dos dirigentes petistas nos executivos começou a mudar. Passaram a confrontar os movimentos sociais e sindicais nas suas lutas por justas reivindicações. Mas não pararam por aí, foram adiante, buscando cooptar para as máquinas administrativas os melhores quadros do partido inseridos nos movimentos sindical e popular, esvaziando assim a possibilidade de mobilização dos mesmos. Essa prática dos governos petistas causou uma séria crítica por parte dos militantes petistas que estavam inseridos nesses movimentos. Temos vários fatos para relembrar isto, tais como: São Paulo, com Luíza Erundina e Marta Suplicy, Porto Alegre (RS), Londrina (PR), Vitória (ES), Belo Horizonte (MG). Os chefes de executivos petistas atacavam os movimentos e os petistas acusando-os de fazer o jogo da oposição, tendo inclusive uma postura autoritária que negava todo o passado do PT quando se recusavam a negociar com as categorias em greve como ocorreu recentemente em Londrina e Recife.

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Ao chegar à Presidência da República, o PT continuou com a mesma prática. Colocou em postos estratégicos no governo federal, na direção e nos conselhos das estatais dirigentes sindicais petistas que hoje estão no centro das denúncias de corrupção. Pelo que se tornou público até agora, esses dirigentes agiram em nome do partido e do governo, negociando cargos, polpudos contratos e licitações que acabaram desviando recursos públicos, enriquecimento ilícito de ex-dirigentes sindicais petistas, da cúpula do partido, das estatais, de parlamentares em troca de apoio nas votações no Congresso Nacional, das reformas, como ocorreu com a reforma da previdência que prejudicou milhares de trabalhadores. E nesta votação foram coniventes inclusive vários parlamentares da esquerda petista, com honrosas exceções. Entre os que votaram contra a reforma da Previdência, alguns foram expulsos do PT.

A destruição da fronteira entre o partido, os movimentos sociais e sindical feita pela cúpula do PT e do governo, tornou promíscua a relação entre dirigentes sindicais, dos movimentos sociais e governos do PT, partidos da base aliada e o resultado aí está.

E mesmo diante de toda esta crise parece que os principais dirigentes PT não querem rever sua prática. O presidente Lula, numa atitude demoralizante para o movimento sindical cutista, convida o presidente da CUT, Luiz Marinho, para ser o ministro do Trabalho e o mesmo aceita sem sequer discutir com a direção e os sindicatos filiados à CUT. Neste ato, o presidente da Republica revela não ver mais diferença entre governo e CUT. É bom lembrar que foi o presidente Lula, numa postura de clara interferência na CUT, quem indicou Marinho para presidente da entidade por ocasião do último congresso da Central.

No momento em que o PT tem a oportunidade de recuperar a autonomia do partido frente ao governo e superar a atual crise com as eleições diretas para presidente do partido, tendo candidatos com clareza da autonomia do partido, como Plínio de Arruda Sampaio, o presidente Lula, numa clara interferência para manter o controle do PT, desloca o ministro da Educação Tarso Genro para presidir o partido neste momento de crise com a queda do grupo de José Dirceu, com o compromisso de substituir José Genoíno como candidato a presidente pelo campo majoritário.

Diante de tanta confusão sobre o papel do governo, do partido, movimento social e sindical, ao que parece nada casual, estamos assistindo lamentavelmente à destruição do maior partido de esquerda da América Latina, o refluxo do movimento popular e sindical, o que significa uma derrota não apenas para o PT mas para toda a esquerda.

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Lafaiete Neves é doutor em Economia pela UFPR, professor aposentado pela UFPR e professor de economia política da PUCPR.