É grande a teia de envolvidos na desgraça a que foi levada a Petrobras. Talvez a melhor comparação, no entanto, não seja com uma teia emaranhada, mas com a figura da hidra, monstro que, segundo a mitologia grega, tinha várias cabeças, que se regeneravam em dobro quando eram cortadas – uma das cabeças, imortal, exigiu uma arma especial para ser eliminada durante os famosos 12 trabalhos de Hércules. E todos querem saber: quem seria o "cabeça" da corrupção que assola a companhia? Como em cada cabeça cabe uma sentença, deram-se elas agora de acusar umas às outras.

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É o caso, neste momento, do ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli. Ao procurar se isentar da responsabilidade que lhe foi imputada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pelo prejuízo de US$ 792 milhões resultante da estranha compra da refinaria de Pasadena, transfere a culpa para o Conselho de Administração da empresa, à época presidido por ninguém menos do que a atual presidente da República, Dilma Rousseff.

Na cabeça de Dilma já coube outra sentença: ela não nega que aprovou, sim, a compra da refinaria americana, mas só o fez porque teria se baseado em um relatório falho e tosco elaborado pelo ex-diretor internacional da empresa, Nestor Cerveró, agora preso em Curitiba. Logo, a culpa deveria ser encontrada na cabeça de Cerveró. Mais democrático, Gabrielli não centraliza a acusação em Dilma: divide-a entre as cabeças dos 12 membros do Conselho, que, se tivessem sido mais cuidadosos, teriam meios de acessar todos os dados necessários para melhor julgar o negócio.

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O mesmo Cerveró, encarcerado sob a acusação de que teria transferido a familiares bens pessoais para que eles ficassem a salvo de eventuais consequências legais das investigações das fraudes na Petrobras, envolve outra cabeça. "Por que só eu?", teria perguntado, com espanto, se do mesmo expediente também teria se valido a atual presidente da Petrobras, Graça Foster. Seu advogado foi bem explícito: "Se é crime para Nestor, é para Graça. Se o Ministério Público Federal pediu prisão para o Nestor por esse fato, deveria pedir para a Graça" – que, no entanto, não é investigada pela Lava Jato, ao contrário de Cerveró.

Concomitantemente, surge também a revelação de que, não fosse a participação do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa (um dos encarcerados pela Operação Lava Jato), que teria criado motivos para multiplicar aditivos, o preço da obra da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, não teria saltado de US$ 2,5 bilhões em 2005 para perto de US$ 20 bilhões atualmente. Nada disso, afirma seu advogado: seu cliente não teria poderes para tanto, pois tudo teria de passar pelo crivo do mesmo Conselho de Administração.

Com certeza, os grandes empresários também presos pela Lava Jato devem estar com tempo suficiente para alvejar cabeças alheias. Eles não ganhavam sozinhos; repartiam lucros com partidos e políticos – logo, teriam estes também responsabilidades que, por uma questão de foro, cabe à Procuradoria-Geral da República apurar. Seriam cerca de 70 os mencionados pelos presos que optaram aderir ao instituto da delação premiada.

É neste ponto que se chega ao motivo de a hidra do petrolão ter tantas cabeças. Sôfregos para se livrar de condenações que os manteriam por décadas na cadeia, os delatores estão ávidos por apontar tantos culpados quanto puderem comprovar – quanto maior a contribuição que derem ao esclarecimento dos fatos, maior a chance de obterem a liberdade ou penas mais leves.

Impossível saber quanto tempo, porém, ainda será necessário para que possamos contar e identificar cada cabeça – e para garantir que, uma vez derrotadas, essas cabeças não se regenerem como na lenda grega.

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