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No mês de janeiro passado, o monstro da inflação mostrou a cara mais feia dos últimos 12 anos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o mês em 1,24%, e o acumulado dos últimos 12 meses atingiu 7,14%, rompendo o teto da meta, que é de 6,5%. Caso a inflação de janeiro se repetisse em todos os meses do ano, 2015 fecharia com a taxa de 15,9%, obviamente um desastre econômico e social. Esse raciocínio é importante para fixar a ideia de que o índice de preços de janeiro passado somente pode ser admitido como exceção resultante de ajustes pontuais – portanto, inaceitável para o ano todo.

Inflação é como doença crônica: pode ser controlada, mas jamais debelada totalmente. A inflação prejudica o organismo social, gera pobreza e diminui o padrão de vida de todos, especialmente dos mais pobres e dos que vivem da renda do trabalho. O Brasil tem experiência suficiente na convivência com essa doença para temer seus efeitos e saber que é preciso combatê-la. O país aprendeu também que inflação é doença de difícil remoção, pois somente conseguiu derrubá-la em 1994, com o Plano Real, após experimentar cinco planos econômicos.

É importante descobrir por que razão a inflação ressurgiu e vem ameaçando superar o teto de 6,5% da meta fixada pelo Banco Central (BC), cujo centro é 4,5%. Para os países desenvolvidos, que têm economia organizada e padrão de vida elevado, a inflação máxima admitida é 3% ao ano, taxa que o Brasil deverá perseguir nas próximas décadas, caso queira entrar no clube das nações adiantadas. A elevação de preços no início deste ano, considerada alta mesmo para os padrões brasileiros, tem causa em decisões tomadas pelo governo federal.

A primeira razão da subida de preços em janeiro vem do represamento anterior dos preços de combustíveis, energia e tarifas de transporte coletivo. A presidente Dilma Rousseff assumiu pessoalmente a responsabilidade por não reajustar os preços administrados para segurar a inflação dos últimos anos e impedir que a taxa rompesse o teto da meta. Embora o governo tenha conseguido anunciar, nos últimos quatro anos, inflação inferior ao teto admitido – como foi o caso de 2014, cujo IPCA fechou em 6,41% –, mais cedo ou mais tarde esses preços teriam de subir e pressionar a inflação.

Dos preços administrados, o que mais subiu foi o da energia, pois a desorganização do setor elétrico e a sangria financeira das empresas do setor chegaram a tal ponto que a sobrevivência das empresas foi ameaçada. Como a energia tem peso relevante no cálculo da inflação, o aumento de suas tarifas empurra o IPCA para cima. A segunda causa da inflação vem de elevações na carga tributária. É o caso dos combustíveis, cujos preços subiram para o consumidor final não em função de reajustes para cobrir custos da Petrobras e das empresas que estão na base da cadeia produtiva, mas porque o governo aumentou os tributos incidentes. O caso da gasolina é sintomático: os preços subiram R$ 0,22 por litro em função da elevação de tributos. Nesse caso, novos aumentos virão nos meses seguintes para compensar o represamento dos últimos anos.

A terceira razão vem da lógica do mercado e da lei da oferta e da procura. A falta de água, a crise de energia e a elevação da taxa de câmbio criaram pressões de custos e redução nas quantidades produzidas, fazendo que surgisse desequilíbrio entre oferta e procura em alguns setores e pressionasse os preços para cima. As razões de mercado são normais e não podem ser totalmente debitadas ao governo, embora parte das causas – a exemplo da taxa de câmbio – tenha no governo um dos principais responsáveis.

O fato é que, para o BC, não importa quais são as causas da inflação. O órgão tem a missão de combater a elevação de preços e trazer a inflação para os 4,5%, o centro da meta. Não sendo possível cumprir a meta, no máximo dá para admitir que a inflação anual fique no teto de 6,5%, razão por que a taxa de 1,24% de janeiro é um mau começo. A primeira consequência prevista é a elevação da taxa de juros, pois o BC não dispõe de outros instrumentos eficazes, a exemplo do equilíbrio da política fiscal (arrecadação tributária menos os gastos do governo), que está nas mãos de outro comandante, o ministro da Fazenda.

O IPCA de 1,24% em janeiro é muito alto, diminui a margem de manobra do governo nos demais meses do ano e só pode ser aceito como exceção.

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