Agora que sobrou lama para todo mundo, com a ampliação da lista dos suspeitos de sujar os dedos com os milhões arrecadados para o financiamento de campanha através de trampas que facilitam os saques ao cofre da Viúva, uma meia-trava no exibicionismo e em outros excessos na abençoada devassa da CPI dos Correios acionou o aviso para o assanhamento dos salvadores da pátria que se ofertam para o sacrifício de articular fórmulas de composição, antes que a crise leve ao extremo da ruptura institucional.
Os mais discretos cochicham nos ouvidos disponíveis os sábios conselhos da prudência. Outros, entremeiam o sigilo com os vazamentos confidenciais à imprensa.
No exemplo mais recente, o ilustre ministro Nelson Jobim, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), deu o ar da sua graça, depois de concluída a ronda de advertências óbvias e de recomendações do bom senso. Mas, pelo visto, com a velocidade com que o escândalo da corrupção surpreende a cada dia com novas pilhas de documentos e listas de suspeitos, a missão Jobim foi atropelada pelas mudanças de cenário. Em impedimento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ninguém mais fala ou nunca cuidou a sério. Não interessa à oposição nem passa pelas cucas ensandecidas do PT. Dispensável, portanto, tanto os puxões de orelha quanto o desfile de argumentos de transparente evidência. Depois, é a tal coisa: com todo o respeito ao presidente da mais alta corte da Justiça, o caiporismo da coincidência não favorece a sua missão salvadora. No mesmo dia em que furou a capa da modéstia para a apresentação ao distinto público da sua cruzada cívica, a mídia abriu modestos espaços para o registro da sanção presidencial à lei, aprovada pelo Congresso, que eleva o teto salarial do funcionalismo para R$ 21.500 e, na cascata da generosidade, emplaca o aumento dos ministros do STF, claro que para o máximo, com recuo para 1.º de janeiro, com a bolada dos atrasados e a previdente antecipação do reajuste para R$ 24.500, em 2006, daqui a cinco meses.
Reconheça-se que o ministro Nelson Jobim não fez nada escondido. Cabalou à luz da publicidade os votos de senadores e deputados, contando com a colaboração entusiástica do presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti, que esfrega as mãos de ansiedade, esperando a hora em que baixe a maré das denúncias que emporcalham o Congresso para resgatar o seu compromisso eleitoral com o baixo clero e, por baixo do pano, equiparar os subsídios parlamentares ao teto dos ministros do STF. O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e sua equipe de sovinas devem estar iludindo a boa fé do povo com a conversa fiada de cortes de despesas e de contingenciamento de verbas orçamentárias para obras de reconhecida urgência. Sobra dinheiro na poupança da forreta senhora. Não há outra explicação para a seqüência de aumentos milionários, com a abertura das comportas da represa pelo esforço conjugado dos presidentes dos três poderes. Cinco mil juízes, desembargadores, ministros estão com a vida arrumada por dois anos. E no Legislativo, basta que o deputado Severino acene para que as assembléias legislativas e as câmaras de vereadores sigam o exemplo que cai de cima como uma bênção do céu.
Só para o povão do salário mínimo e para os barnabés a escoria dos servidores públicos, dos aposentados e pensionistas o governo chora miséria e ofende com o reajuste anual de 0,01%, em desmentido às promessas do presidente, de olhos cerrados e ouvidos moucos.
No suspiro de alívio das reuniões da CPI, enquanto examina o papelório do cateretê da roubalheira, o presidente Lula continua a fazer a sua parte na arrumação do governo, com os exageros que não consegue evitar. Esta semana viajou todos os dias, passando o mínimo tempo possível em Brasília. Por onde andou repetiu o mesmo discurso com pequenas variantes: filho de pai e mãe analfabetos, a única herança que recebeu é o nome honrado, acima de qualquer suspeita. Item novo ou retomado, a promessa de acabar com a corrupção num curto espaço de tempo.
Enquanto o presidente paparicava a popularidade nas andanças de relações públicas do governo, em Brasília, no Salão Oval do Palácio do Planalto, a ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil, presidiu a primeira reunião ministerial desde que assumiu a gerência administrativa do país. Função típica e intransferível do presidente da República.
A ministra Dilma Rousseff, na cadeira do ex-ministro José Dirceu, defenestrado pela crise, assumiu de público: é a presidenta em exercício do Brasil.
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