Um velho companheiro de milhões de brasileiros completou 90 anos neste mês, e nesta semana comemorou-se o seu dia. Em 7 de setembro de 1922, um discurso do presidente Epitácio Pessoa, em comemoração ao centenário da Independência, marcaria a primeira transmissão oficial de rádio no Brasil. Com equipamentos trazidos, especialmente, dos Estados Unidos, o lançamento no Teatro Municipal do Rio de Janeiro teve um caráter experimental.

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A história do rádio no país começara, na verdade, em 1893, quando o sacerdote e cientista gaúcho Landell de Moura transmitiu um sinal de voz a distância, sem auxílio de fios. O padre antecipou-se, assim, ao italiano Guglielmo Marconi, considerado no mundo o inventor do rádio. A primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, só surgiria em 1923, pela perseverança do médico e professor Roquette Pinto. Desde então, o rádio viveu tempos de dificuldades e de glórias. Os anos 20 e 30, marcados pela tecnologia precária, assinalam as primeiras concessões de canais e o início da publicidade na programação.

O jornalismo no rádio, com o Repórter Esso, a radionovela e os programas de auditório, embalam os anos 40. A transmissão via satélite permite um salto tecnológico na década de 60, quando é fundada a Abert, entidade que hoje representa 3 mil emissoras de rádio e televisão no país. Os anos 70 e 80 marcam o advento das emissoras FM; na década de 90, nasce o jornalismo 24 horas e são dados os primeiros passos na internet. Os anos 2000 tornam frenético o ritmo da inovação tecnológica.

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Nessas nove décadas, pela voz de milhares de comunicadores, o rádio participou das transformações do país, contou a história de seu povo e colaborou para o fortalecimento da identidade nacional e da democracia. Suas contribuições são inúmeras e fundamentais nos campos econômico, social, político, cultural e educacional.

Hoje, o rádio está presente em nove de cada dez domicílios, segundo o Target Group Index, do Ibope Media. Mas não foram poucas as vezes em que se anunciou a morte do rádio, com a chegada da televisão aberta, da tevê por assinatura e, mais recentemente, da internet. O rádio provou sua força, soube se adaptar e valorizar atributos como instantaneidade, interatividade, mobilidade e a proximidade com o cidadão. Esses aspectos resumem o seu grande diferencial: um conteúdo de qualidade produzido com credibilidade.

O rádio ganhou aliados para expandir seu alcance, como telefones celulares, iPods, MP4 e tablets. O mesmo levantamento do Ibope Media indica que 8% dos ouvintes (o equivalente a 4,2 milhões de pessoas) com idade entre 12 e 75 anos escutaram rádio pela internet no último mês. O porcentual chega a 11% entre os jovens de 12 a 24 anos. Se por um lado a popularização da internet e das novas mídias amplia a concorrência, por outro elas permitem que o rádio vá mais longe, conquiste mais ouvintes e atraia novos anunciantes.

No entanto, há questões relevantes a serem resolvidas. Uma delas é a flexibilização da transmissão da Voz do Brasil, programa que tem a sua importância, mas que não pode se manter como uma imposição às emissoras e aos ouvintes. Outra é a definição do padrão digital pelo Ministério das Comunicações, aguardada para este ano. Mas tão ou mais importante é a migração das rádios AM, afetadas por interferências crescentes, para a faixa de FM, medida que já está em estudo no Ministério das Comunicações.

Daniel Pimentel Slaviero é presidente da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

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