Cada pessoa dispõe de potencialidade para cooperar na construção de um mundo melhor; promover a arte, a ciência, a filosofia e a fraternidade; cultivar valores morais e intelectuais. Vale a pena oferecer o melhor dos esforços, dons e talentos para causas nobres, justamente pela sua transcendência. É normal que nos ocupemos do futuro, pois é no futuro que iremos passar o resto das nossas vidas.
O ser humano é um eterno aprendiz, um aprendiz também de imortalidade. Quanto mais avança em anos, sente quemais tem a dizer e de menos tempo dispõe para dizê-lo. Quando nos encontrarmos do outro lado da margem da vida, continuaremos existindo. Ficaremos, também, perpetuados nas realizações e nas marcas que tivermos deixado na margem de cá.
No caso de um escritor, serão os seusescritos. No caso de um educador e comunicador, serão as suas lições. Nocaso de um filósofo, serão os seus pensamentos. No caso de qualquer outra pessoa, serão as ações que tiver realizado em benefício da humanidade. A brevidade da vida conflita com o anseio de infinito que acalentamos no coração. De igual forma, as limitações e as circunstâncias não permitem a plena realização, recriação e consolidação de muitas expectativas. O brevetempo que vivemos tem, mesmo, um sabor de introdução, um gosto de aperitivo, a exigir o curso ou o prato principal. Tolstói sustentou ser a fé a força da vida. O pensamento da imortalidade dá sentido à vida, esse presente maravilhoso que todos recebemos, generosamente, de Deus.
Ser humilde, modesto e simples é justamente respeitar a dignidade humana,promover a paz e viver as lições contidas no Evangelho. Pitágoras fez da Amizade o alicerce do Templo das Musas, o elo de ouro da sua doutrina:"Meu amigo é o outro eu mesmo." Os bens materiais, a riqueza, o poder, a arte, "a ciência e a tecnologia, se desprovidos de aspectos éticos, podem levar a numerificação e desvalorização da personalidade. A produtividade e a economicidade, erguidas como fins primordiais da vida, têm deformado a própria razão de existir, subtraindo do homem o que ele tem de mais precioso: a sua dignidade." (Euro Brandão)
A modernidade está embasada em valores do humanismo, da solidariedade e da cidadania. O trabalho é de equipe que somam competências humanas e experiências gerenciais. A essência da administração não é conseguir realizar só o que é oportuno e necessário, mas implantar, desbravar e alcançar o que se pretende. Portanto, voltar-se para a vida é não parar no tempo. O mundo evolui a passos largos, a cada instante. A única coisa de que temos certeza é que precisamos estar preparados para o vir-a-ser. Não podemos engessar o amanhã, temos que dar paz ao futuro. "Feliz o homem que encontrou a sabedoria e alcançou o entendimento." (Pr, 3,13) Vida e sabedoria constituem a principal riqueza do ser humano. Sabedoria não é, certamente, idêntica ao conhecimento. Enquanto este pode ser facilmente encontrado nos livros ou por meio de outros recursos, aquela só se encontra escrita nas páginas da vida daqueles que pacientemente a souberam procurar e cultivar. Nesse sentido, pode-se dizer que um inculto pode ser sábio. É também possível que alguém que domine uma grande cultura não seja guardião de sabedoria alguma. A sabedoria não se confunde, por certo, com a arrogância e a soberba intelectuais, que são fruto mais da prisão a alguma verdade pré-fabricada.
Da mesma maneira, é fundamental colocar-se sempre na condição de aprendiz. Guimarães Rosa conseguiu sintetizar em uma bela máxima: "Professor é aquele que, de repente, aprende".
Clemente Ivo Juliatto é reitor da Pontifícia Universidade Católica doParaná e 2.º vice-presidente da Associação Brasileira de Universidades Católicas (Abruc).
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