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Para manter-se no poder, Assad confia no apoio da Rússia e da China, que sistematicamente vêm barrando no Conselho de Segurança medidas drásticas contra o seu governo

Há mais de um ano, a Síria encontra-se mergulhada num cenário de caos em razão da violenta repressão do presidente Bashar Assad contra as forças rebeldes que querem a derrubada do seu governo e a substituição por um regime democrático. A disposição férrea de manter-se no poder a qualquer custo tem submetido a população a um martírio que já deixou um saldo estimado em mais de 20 mil mortes e o êxodo de milhares de sírios na busca de segurança em países vizinhos, embora o Líbano já comece a registrar episódios de violência ligados ao conflito no país vizinho.

No cargo há 12 anos e representando a continuidade de um domínio familiar que se prolonga por 29 anos, Assad aparecia como a bola da vez do movimento que ficou conhecido por Primavera Árabe. Iniciada na Tunísia, a onda revolucionária rapidamente se espalhou como rastilho de pólvora por países do Oriente Médio e norte da África. No foco das insurgências, a derrubada das oligarquias que por década subsistem à custa da opressão. Assim é que regimes ditatoriais como os da Tunísia, da Líbia, do Iêmen e do Egito foram apeados do poder com consequências políticas e sociais ainda não bem definidas. Já Bashar Assad vem dando mostras de que pretende resistir a qualquer custo às tentativas de destituí-lo, ainda que isso possa levar o país ao colapso total.

Em meio aos combates fratricidas entre tropas leais ao governo e rebeldes, líderes mundiais buscam soluções para o impasse sírio e justamente aí reside uma questão fundamental a merecer uma reflexão mais acurada: a incapacidade da comunidade internacional para encontrar caminhos que permitam colocar um paradeiro aos conflitos que ocorrem não só no Oriente Médio, mas em outras regiões do planeta. A constatação mais evidente dessa situação está na completa inoperância da Organização das Nações Unidas em cumprir com o papel que lhe cabe. Fundada em 1945, quando do término da Segunda Guerra Mundial, a ONU tem como premissas básicas a manutenção da paz internacional, a garantia dos direitos humanos e a promoção do desenvolvimento socioeconômico das nações.

Princípios sem dúvida nenhuma fundamentais, mas que em boa parte não passam de letra morta, dado o confronto de interesses que acaba conspirando contra a capacidade de entendimento. É o caso específico do Conselho de Segurança, que tem como membros permanentes Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Com poder de veto sobre qualquer resolução que possa ser tomada pelo conselho, essas cinco nações sobrepõem seus próprios interesses aos da maioria da comunidade internacional.

Esse complicador se mostra particularmente evidente no Oriente Médio, onde a mescla de teocracias e ditaduras longevas com os interesses econômicos e políticos das grandes potências conspira sobremaneira contra a busca de soluções. Como pano de fundo desse complexo e explosivo quadro está o petróleo existente em abundância no subsolo da região e do qual o mundo industrializado tanto depende. Essa é a realidade em que está mergulhada a Síria, às voltas com uma guerra civil de um lado e de outro, com as pressões internacionais, cujo escopo principal é a predominância da influência na região. Para manter-se no poder, Assad confia no apoio da Rússia e da China, que sistematicamente vêm barrando no Conselho de Segurança medidas drásticas contra o seu governo, concordando apenas com leves reprimendas. Posição a que se contrapõem os Estados Unidos e seus aliados, que defendem a saída do presidente do poder e sua substituição por um regime mais aberto. A imediata resposta russa à ameaça norte-americana de atacar a Síria caso Assad use armas químicas contra sua população é o exemplo mais recente do impasse entre as potências.

Uma queda de braço que, se até agora não apresenta um vencedor, tem, sem dúvida, no povo sírio o grande perdedor, pela sua sujeição a uma guerra sangrenta e de consequências futuras imprevisíveis para o país. E não há como fugir da constatação de que a tragédia da Síria, assim como a do povo palestino, que há muito busca o reconhecimento como Estado soberano, são exemplos da absoluta incapacidade da diplomacia moderna em fazer frente aos grandes conflitos mundiais da atualidade.

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