O acordo entre Estados Unidos e União Europeia, caso seja aprovado, irá aumentar as razões pelas quais as reformas precisam ser feitas aqui no Brasil

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Entre os assuntos presentes nos noticiários internacionais deste início de ano está o chamado "mega-acordo comercial" entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE). As negociações já foram iniciadas e o objetivo das partes é chegar a um acordo bastante amplo de livre comércio e investimento, cuja essência está na eliminação de barreiras tarifárias e regulatórias de uma imensa lista de bens e serviços.

Logo após o comunicado conjunto assinado pelo presidente Barack Obama, o comissário da UE, José Manuel Barroso, e o presidente do Conselho Eco­nômico Europeu, Herman Van Rompuy, começaram as especulações e as análises sobre a extensão do acordo e as consequências para os países, inclusive o Brasil. A razão é que, conforme diz o próprio comunicado, "o relacionamento econômico transatlântico já é o mais volumoso do mundo, respondendo por metade da produção econômica global e quase US$ 1 trilhão de comércio de bens e serviços".

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O comunicado ainda afirma que "uma parceria comercial e de investimento transatlântica de alto nível impulsionaria a liberalização do comércio e dos investimentos, e abordaria questões regulatórias e outras barreiras não tarifárias". Em outra passagem, está dito que "por esta negociação, os EUA e a União Europeia terão a oportunidade não apenas de expandir o comércio e o investimento nos dois lados do Atlântico, mas também de contribuir para o desenvolvimento de regras globais que possam fortalecer o sistema multilateral de comércio".

Não é preciso mais para dizer que, se aprovado, esse acordo imporá novos desafios internacionais para o Brasil e outros países emergentes. A abertura do Brasil para o mundo e a ampliação do comércio exterior do país são desejáveis, inclusive como meio de permitir que a economia interna se beneficie da incorporação do progresso tecnológico que ocorre em escala global. Para isso, o governo e o setor produtivo devem entender que o Brasil precisa melhorar muito as bases requeridas para participar do comércio internacional.

Os três principais pilares da economia nacional com vistas às exportações são a infraestrutura física, a carga tributária e a taxa de câmbio. Infelizmente, o setor exportador brasileiro sofre com as três e, por isso, a inserção do país na economia internacional é muito pequena. As reformas na área da tributação e da infraestrutura física – com destaque para a questão portuária, aeroportuária e de transportes – já deviam ter acontecido por razões internas, ou seja, para melhorar a produtividade da economia e impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

O acordo entre EUA e UE, caso seja aprovado, irá aumentar as razões pelas quais as reformas precisam ser feitas. Portanto, se quiser evitar que o setor externo da economia sofra e o crescimento seja prejudicado, o Brasil precisará dar prioridade às melhorias nessas áreas, e as reformas têm de ser rápidas. O fato é que os efeitos do que ocorre no mundo não podem ser desconsiderados. Assim foi com crise financeira dos EUA, está sendo com a crise europeia e será com os rumos que vai tomar a economia da China e com os efeitos do acordo entre EUA e os países da União Europeia.

Vários acordos comerciais bilaterais e regionais foram feitos nos últimos anos, mas nenhum tem um peso geopolítico e econômico tão grande quanto o acordo EUA-UE. A pauta de exportação brasileira para os EUA e para a Europa tem pontos de convergência, e isso limita o impacto do acordo, mas há setores específicos que podem sofrer com a concorrência de empresas norte-americanas nesses mercados. Tudo vai depender dos pontos do acordo, a exemplo dos subsídios a produtores locais oferecidos por governos dos dois lados, sobretudo em relação à política agrícola comum europeia. O histórico de subsídios – tanto nos EUA quanto na Europa – mostra que haverá pressões de produtores contra o corte dos programas que há décadas os beneficiam.

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O fato é que o Brasil precisa prestar muita atenção nos termos desse acordo e, independentemente de quando ele vai ser concluído, é prudente que a presidente Dilma assuma a dianteira das decisões sobre as estratégias para a infraestrutura física e para a tributação. O estrago que a elevada e complexa carga tributária brasileira e o gargalo na infraestrutura vêm provocando à economia e ao crescimento está atingindo limites inaceitáveis. A possibilidade do acordo entre EUA e UE é apenas mais um ingrediente na necessidade de o país fazer o que já devia ter sido feito há muito tempo.