Em março de 2012, a Gazeta do Povo, em editorial, denunciou uma proposta macabra de dois pesquisadores, Francesca Minerva e Alberto Giubilini, feita na publicação britânica Journal of Ethical Medics. O título de seu artigo era autoexplicativo: After-birth abortion: why should the baby live? ("Aborto pós-nascimento: por que o bebê deveria viver?"). O que defendiam era simplesmente o direito ao infanticídio, ampliando a defesa do aborto para incluir nele a morte de crianças no início da vida fora do útero materno, caso ela representasse uma "ameaça" ao bem-estar da família – "ameaças" essas que incluiriam até uma diminuição no status financeiro.

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Era de se esperar que tal proposta fosse prontamente rechaçada por todos que tenham um mínimo de consciência da dignidade do ser humano. No entanto, não é isso que vem acontecendo, pelo menos no mundo acadêmico. Reportagem publicada pela Gazeta do Povo no último dia 30 de novembro mostra que um levantamento feito em universidades de três estados norte-americanos encontrou defensores do infanticídio em todas as instituições observadas. Além disso, o próprio Journal of Medical Ethics retomou o tema um ano depois do artigo de Minerva e Giubilini, pedindo os comentários de 31 bioeticistas – e alguns deles defenderam a prática. É preciso lembrar que o fenômeno, no momento, parece restrito ao ambiente das universidades, já que em diversos países a população, em sua maioria, rejeita o aborto.

A defesa do infanticídio é a conclusão torta de uma premissa correta. Afinal, não existe nenhuma diferença ontológica entre um recém-nascido e um bebê na última semana de gestação (Minerva e Giubilini reconhecem isso explicitamente), assim como também não existe diferença entre esse bebê e um embrião com dias de vida. Se o recém-nascido é humano, também o é o feto no fim da gravidez, e também o é o embrião – afinal, todos são indivíduos com DNA único, indubitavelmente humano, adquirido desde o encontro dos gametas masculino e feminino.

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Para contornar o fato incômodo de que estão defendendo a eliminação de um ser da espécie humana, os apologistas do infanticídio apelam para um conceito arbitrário, pelo qual alguns se dão o direito de definir quem é "pessoa" e quem não é. Um papel decisivo no desenvolvimento desse raciocínio é assumido pelo filósofo e bioeticista australiano Peter Singer. Sua defesa enfática dos direitos dos animais lhe garantiu a admiração de muitos no ambiente acadêmico e fora dele, mas são poucos os que compreendem até onde a argumentação de Singer leva. Assim, em 1979 ele já escrevia que "bebês humanos não nascem com a noção de si próprios, ou capazes de perceber sua existência (...) eles não são pessoas (...) A vida de um recém-nascido vale menos que a de um porco, um cão ou um chimpanzé". E, cinco anos atrás, na Universidade de Princeton, o bioeticista afirmou que "bebês humanos recém-nascidos não têm senso da própria existência ao longo do tempo. Então, matar um recém-nascido nunca é equivalente a matar uma pessoa, isto é, um ser que deseja seguir vivendo" – uma afirmação que ignora as reações, gravadas inúmeras vezes em ultrassom, de fetos submetidos a abortos, que se debatem freneticamente diante dos instrumentos que lhe tirarão a vida.

A penetração das ideias de Singer no ambiente universitário pode ajudar a entender por que a defesa do infanticídio cresce na academia, enquanto continua causando repulsa praticamente unânime fora dela. Falta, em muitos lugares, a consciência de que a dignidade do ser humano – e a necessidade de sua proteção – deriva justamente do fato de ele ser humano, algo cuja objetividade é inquestionável, e não de considerações utilitaristas ou de conceitos definidos arbitrariamente como pretendem Singer, Minerva, Giubilini e os demais acadêmicos que defendem um suposto "direito" ao aborto e ao infanticídio.

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