Algumas características da vida nas grandes cidades – como aumento das populações, crescimento da frota de automóveis, congestionamentos e consequente diminuição da velocidade de deslocamento –, aliadas a outras externalidades, tais como poluição, custo de combustíveis e transportes, para citar alguns, têm produzido como efeito o retorno da valorização dos deslocamentos a pé.

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Ao longo das últimas décadas, planejadores, engenheiros e autoridades municipais têm despendido esforços na priorização do automóvel sobre o andar a pé. Esse panorama está sofrendo mudanças, e várias comunidades que outrora realizavam seu deslocamento a pé e vieram a fazê-lo com veículos automotivos recentemente passaram, mais uma vez, à tentativa de trocar o carro pelas caminhadas. A principal iniciativa no sentido de buscar a mobilidade de pedestres é o reconhecimento de que a dependência de veículos automotivos leva a um futuro insustentável.

Os deslocamentos geralmente destinam-se à realização de certas atividades de trabalho e lazer, dentro de um raio de distância não muito extenso em relação à residência ou mesmo a um terminal de transporte coletivo, desde que existam algumas condições de ambiente e segurança.

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A "andabilidade" do espaço urbano engloba o compromisso do ambiente com o caminhar. Entre os principais fatores que afetam a "andabilidade" incluem-se: o tipo de uso de solo; a densidade residencial; a configuração do sistema viário; a qualidade de calçadas; a quantidade e qualidade do mobiliário urbano; o volume e velocidade de tráfego de veículos; a proteção contra efeitos climáticos e a insolação; o ruído e a qualidade do ar; a estética e o ambiente social da região; e a presença de usuários de drogas, prostituição, crime e furtos.

A valorização dos ambientes destinados prioritariamente aos pedestres e o consequente reconhecimento pelo usuário urbano têm promovido um movimento de apoio a esse tipo de planejamento e, embora ainda incipiente, ao redimensionamento das vias públicas para a função de caminhar. A fim de auxiliar na avaliação e classificação de locais quanto às facilidades e incentivos ao caminhar, têm sido criados índices que procuram mensurar algumas das principais características derivadas do conceito de "andabilidade". Esse índice não só permite avaliar o quanto as comunidades são "andáveis", mas também agrega a questão sobre como tornar as comunidades mais seguras e propícias ao caminhar.

Considerando-se a natureza dos deslocamentos a pé e suas relações com os fatores que influenciam direta ou indiretamente o comportamento dos pedestres, esse índice apresenta como fator principal a conveniência ou atratividade de um ambiente para o pedestre.

Todos nós começamos e terminamos os deslocamentos a pé; andar é a forma mais barata de transporte para todas as pessoas, e a construção de ambientes convenientes ao pedestre proporciona o sistema de transporte mais acessível que uma comunidade pode planejar desenhar, construir e manter.

As atividades desenvolvidas por nós na condição de pedestres definem o modo pelo qual se distribuem e caracterizam a circulação, os encontros e o convívio da população em espaços urbanos. Reconhecer que andar a pé é o principal meio de deslocamento para desenvolver a maior parte das atividades diárias é acreditar no futuro sustentável de nossas cidades.

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Jussara Maria Silva, arquiteta, é professora no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo.