O mês de dezembro chegou e com ele as festas de Natal e Ano Novo, mas também as pesquisas nacionais de avaliação do primeiro ano do terceiro governo Lula (PT). No atacado, há levantamentos de diversos institutos, com variadas metodologias, apontando um cenário nada benevolente para a sequência do mandato do grande líder petista. Datafolha, IPEC, Atlas, DataPoder e Quaest mostram, em maior ou menor grau, que o ano de 2023 foi perdido pelo presidente Lula. A popularidade do governo está empacada, com a reprovação aumentando. Em alguns desses levantamentos, a imagem negativa da gestão petista já supera a positiva. Isso em um ano que o Brasil deve crescer perto de 3% e que a inflação de alimentos está baixa.
Se, na década de 2000, os bons resultados na economia bastaram para conferir a Lula expressivos índices de popularidade, a realidade agora se mostra diferente. O governo parece ter perdido a batalha de narrativas junto à opinião pública e não conseguiu capitalizar os bons ventos econômicos, aliados às reformas aprovadas pelo Congresso Nacional. Alguns fatores podem explicar a situação.
O primeiro deles é a expressiva parcela de cidadãos brasileiros que dizem não confiar no presidente da República. Na média dos levantamentos, o índice fica perto de 45%. Mesmo com as decisões favoráveis nas instâncias superiores, a imagem de corrupto e mentiroso parece ter grudado em Lula, de tal forma que uma fatia expressiva da população não acredita no que o mandatário diz, mesmo com a grande imprensa realizando uma cobertura bastante simpática ao governo do petista.
Outro ponto importante é a desconexão entre o governo Lula e o Brasil profundo. Ao investir em pautas progressistas, seja na área dos costumes ou da segurança pública, o governo ignora o país de maioria cristã e que abomina a criminalidade, desejando punições mais severas e melhores condições de trabalho para as polícias. A autocrítica tímida foi feita pelo próprio Lula, em evento recente do PT, ao dizer que o partido deveria investir na aproximação com evangélicos.
Além deles, o objetivo central do lulismo em 2023: a destruição do “bolsonarismo”. Aqui o tamanho da derrota chega a ser espantoso. Mesmo após um ano de intensa pancadaria midiática e judiciária, contando com a participação de ministros do governo e do próprio presidente, com direito à condenação à inelegibilidade, o ex-presidente Jair Bolsonaro conserva o seu capital político e mantém uma base fiel de eleitores. O projeto lulista de encerrar o ano de 2023 com um Bolsonaro fragilizado perante a opinião pública deu com os burros n’água.
2024 vem aí e promete ser ainda pior para a gestão Lula. O crescimento projetado para a economia brasileira é metade do que teremos em 2023 (isso se a bomba relógio fiscal não explodir e azedar o caldo de vez), a agenda do governo no Congresso Nacional será pautada pelo aumento da carga tributária (temática rechaçada por grande parte da população) e as eleições municipais, embora bastante pautadas pelos assuntos locais, também serão rodeadas de discussões sobre aspectos ideológicos e comportamentais, revivendo uma parte da polarização vista em 2022.
Em um ano com relativa tranquilidade e bonança econômica, o esperado era ver o governo acumular uma gordura de popularidade, para, eventualmente, queimar nos anos seguintes e ainda chegar em condições de força para a disputa da reeleição. Não é o que estamos vendo com Lula. A depender dos acontecimentos de 2024, o presidente petista pode ingressar no terceiro ano de mandato em situação delicada – e pior – sem ter ferramentas capazes de reverter o cenário. O ano que vem promete ser decisivo.
Victor Oliveira é mestre em Instituições, Organizações e Trabalho e também especialista em Marketing Político e Comunicação Eleitoral.
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