“Adiado diversas vezes, o leilão do 5G ocorreu em um momento que combina baixíssimo crescimento com inflação em alta”.| Foto: José Cruz/Agência Brasil
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O leilão das áreas e frequências do 5G, realizado pela Anatel em novembro, mudará, no curto, médio e longo prazos, as telecomunicações no país. O fator mais aguardado, o salto tecnológico proporcionado pela velocidade significativamente superior e baixíssima latência desse tipo de conexão, demorará mais que o desejado, particularmente por conta do cenário macroeconômico. Os reflexos imediatos do certame tratam-se, de fato, da intensificação de movimentos que estão em curso há anos e que mudarão o perfil dos maiores ofertantes de internet rápida do país.

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Adiado diversas vezes, o leilão do 5G ocorreu em um momento que combina baixíssimo crescimento com inflação em alta. Com o IPCA superando os dois dígitos em 12 meses, o Banco Central, que eleva ininterruptamente a Selic desde janeiro, passou a adotar, em outubro, novo ritmo de alta para a taxa.

A perda de poder aquisitivo resultante da inflação impede que empresas de vários segmentos – caso dos provedores de internet – repassem até mesmo seus aumentos de custos ao consumidor final. Desta forma, num momento em que a maior parte dos brasileiros se preocupa mais em cortar gastos do que em adquirir bens ou serviços, a contratação dos primeiros pacotes 5G que chegarem ao mercado se dará em volume bem inferior ao desejado. Já as empresas, diante da aceleração da alta dos juros, adiarão o quanto puderem a realização de investimentos, postergando, assim, a popularização das soluções viabilizadas pelo novo modelo de conexão. Já existe demanda e logo haverá oferta da tecnologia, só que em uma escala que impedirá a adoção de preços acessíveis no curto prazo. Ficarão, portanto, num primeiro momento, restritas a poucos e apenas em centros mais urbanizados, o que é negativo, por, entre outros fatores, comprometer a competitividade do país.

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Paralelamente, há uma crise global de abastecimento e de produção de microprocessadores. Há quem considere que este fator irá acelerar a popularização do 5G. Em tese, com a redução da capacidade de fornecimento e fabricação de (entre outros, mas principalmente) chips, tudo que estiver relacionado à nova tecnologia seria priorizado em detrimento do que se destina, por exemplo, ao 4G. Isso pode se confirmar ou não. Por ora, não se reflete na realidade, como se vê na decisão da Sony de suspender a produção do PlayStation devido à falta de componentes. O produto, embora não dependa do 5G, é o um dos “top de linha” da fabricante, status que as soluções viabilizadas pelo novo modelo de conexão deverão ter; e, mesmo assim, foi afetado pela crise. O mesmo fator está comprometendo a produção da indústria automobilística, particularmente no país. Há, portanto, o risco de que o desabastecimento adie a chegada da nova tecnologia.

Adiado diversas vezes, o leilão do 5G ocorreu em um momento que combina baixíssimo crescimento com inflação em alta. Com o IPCA superando os dois dígitos em 12 meses, o Banco Central, que eleva ininterruptamente a Selic desde janeiro, passou a adotar, em outubro, novo ritmo de alta para a taxa.

A realidade do país garante ainda muito espaço para que os provedores regionais, responsáveis por 43% do fornecimento de banda larga, mantenham o nível anual de expansão com as ofertas de que dispõem hoje. Em seu levantamento mais recente sobre o tema, o IBGE apontava que, em 2019, apenas 55,6% dos domicílios da área rural do país dispunham de conexão à internet. Enquanto vão atendendo a esta demanda, os PPPs aumentam sua capilaridade, algo que será fundamental para ofertar o 5G, que complementará as entregas dos provedores, quando a tecnologia tiver preços em alguma medida acessíveis.

Diferentemente das grandes teles, que têm de realizar gastos consideráveis na modernização de suas imensas redes, provedores regionais como Brisanet e Unifique dispõem, graças a recentes IPOs, de recursos suficientes para, mesmo cumprindo as obrigações relativas aos lotes e frequências adquiridos no leilão de 5G, realizar outros investimentos. Possuem administração altamente profissionalizada que dispõe de analistas atentos ao cenário econômico que se avizinha, o que orienta seus investimentos. O mesmo se dá entre fundos e bancos, que injetam cada vez mais recursos em provedores regionais.

Desta forma, no curto prazo, mais do que acelerar a oferta do 5G, esses players intensificarão o movimento de concentração de provedores regionais. Essa ação, além de viabilizar ofertas futuras – já que, além do alcance dessas empresas, a combinação de banda larga por fibra óptica será imprescindível para a oferta da maior parte das soluções viabilizadas pelo 5G –, é favorecida pelo atual quadro do mercado.

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O segmento de provedores regionais ainda é extremamente pulverizado, com casos em que cinco dessas empresas de pequeno porte operam simultaneamente em uma cidade com menos de 10 mil habitantes. É comprando ou promovendo fusões de PPPs que players capitalizados garantirão acesso ao consumidor final para ofertar, daqui a alguns anos, soluções que, num futuro próximo, permanecerão restritas a poucos. O ganho de escala reduzirá os valores cobrados tanto pelo 5G quanto pelas soluções por ele viabilizadas.

Pouco perceptível pelo consumidor final, o movimento que se segue ao leilão do 5G é a aceleração da onda de fusões e aquisições entre os provedores regionais, reduzindo o número de empresas e dando-lhes maior porte. Enquanto muitas irão se fundir, outras não sobreviverão diante de concorrentes mais fortes.

Os players que promovem a onda de concentração observam atentamente as condições administrativas e regulatórias das empresas em que pretendem investir. A demanda por internet rápida fora dos grandes centros, e que possibilitou aos provedores regionais registrarem uma expansão superior a 20% ano após ano, ainda existe. Ocorre que, se no passado o quadro possibilitava a existência de empresas mal geridas, com pendências regulatórias ou até clandestinas, a chegada do capital impõe outro nível de profissionalismo. Os que não estiverem em dia com suas obrigações perante Anatel, fisco, conselhos técnicos e concessionárias de energia ou que, por conta de má gestão, acumulam passivos, desaparecerão do mercado em breve ou, com sorte, irão se deparar com um deságio significativo quando – e se – receberem alguma oferta de compra.

Fabio Vianna Coelho é sócio das empresas VianaTel e RadiusNet.