Caro leitor, imagine uma caravana com 21 ônibus lotados. Total de 847 passageiros. Essa é a quantidade de candidatos políticos no Paraná. Algumas dessas pessoas você já conhece dos programas de televisão ou rádio, outros das manchetes dos jornais, e alguns, talvez, pessoalmente. A maioria, entretanto, você nunca viu. Eles sabem disso. Vão, então, organizar-se em partidos, fazer alianças com quem você já conhece e votou e pretendem gastar muito dinheiro, sorriso e saliva para conquistar o seu voto.

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Nós brasileiros ainda vemos essas disputas eleitorais com desconfiança. É provável que continuemos assim por algum tempo ainda, pois nossos meios para impedir abusos ainda são ineficazes e a democracia ainda não resolveu nossos problemas mais agudos. Mas estamos só com 17 anos de experiência democrática. E o leitor sabe que se esta é uma idade de auto-afirmação, é também de hesitações e dúvidas.

Eis um aspecto nada simples das democracias jovens: sabemos o que fazer com as liberdades recém-conquistadas? Que bom se nossos partidos já estivessem bem organizados, com propostas razoáveis e distintas umas das outras.

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Não é assim.

E isso é ruim? Não totalmente.

Essa democracia que estamos construindo não é de conflitos. É de tolerância. Nossa sociedade é violenta, sim. Mas a violência (mesmo onde é organizada) não é ideológica, não tem programa político. É uma violência que vem de um mundo de negócios ilícitos. Quando uma sociedade não tem ideologias políticas radicalmente distintas é por que o pensamento médio não aceita, nem estimula, o conflito aberto. O sistema político absorve essas características.

Não interprete mal a ação política, então. Se os brasileiros são contrários a governos e soluções radicais, os partidos precisam agradar a esse eleitor tolerante, um pouco desatento e mal-acostumado à democracia. Se o eleitor é semelhante, candidatos e partidos também serão. Lembre: ajustar ações aos interesses do público-alvo não é privilégio de empresas. É racional.

Por outro lado, já não suportamos candidatos ingênuos, oportunistas, egoístas ou incompetentes. Você tem dúvidas, porém, de que de novo premiaremos esses tipos com nossa desatenção?

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No Paraná, vamos eleger 1 Presidente da República, 1 governador, 1 senador, 30 deputados federais e 54 deputados estaduais. São 87 cargos políticos que vamos eleger. Neste momento já são 11 candidatos a governador, 10 a senador, 272 a deputado federal e 554 a deputado estadual. (Dados de 26.07.2006).

Então, como votar sem ser irresponsável com os que discordam de nossas preferências, mas que serão afetados por elas? Como não cometer erros graves?

Recomendo que você acesse o site do TSE (www.tse.gov.br) e procure os candidatos. Todos estão lá com nome, número, partido, quanto vai investir na campanha, quanto tem de patrimônio particular e qual o nível de instrução. Consulte também a lista pública mantida pelo TSE que contém os nomes de todas as pessoas físicas, não falecidas, cujas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas tenham sido julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União. Divulgue-a. Não vote em corruptos ou corruptores. No site, www.transparencia.org.br, você vai encontrar muitas informações sobre esses dois tipos. Vote em candidatos que tenham um passado comprometido com os seus interesses, com os de sua região e município. Não vote em candidato simplesmente por que está à frente nas pesquisas. Não vote em quem lhe oferecer presentes ou benefícios em troca de voto.

O Brasil vai eleger, ao todo, 1.059 deputados estaduais e 513 deputados federais, 81 senadores, 27 governadores e 1 Presidente da República. Essa caravana vai passar e nós vamos dizer quem deve descer desses ônibus. De minha parte só descem os que são, ao mesmo tempo, éticos; tolerantes e competentes para administrar nossas prioridades.

Carlos Luiz Strapazzon é professor de Ciência Política das Faculdades Curitiba. Doutorando em Sociologia (UFPR).

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carlosdir@uol.com.br